quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Do Natal

O que é o Natal sem uma mesa farta, crianças barulhentas e família reunida? É um dia como outro qualquer, mas não é Natal.

Felizmente para nós -  e espero que por muitos anos! – nós pudemos passar o Natal todos reunidos, em família, com saúde.

Se foi tudo perfeito? Nunca é.
Se alguém foi para a cama enfartado? Acho que todos.
Se todos dormiram uma noite repousante? Acho que ninguém. Talvez o Mickey… E o Benny.  
Se houve crianças felizes? Mais do que três!

Leram bem. Foram mais do que três os miúdos deslumbrados, mesmo se menores de 10 anos eram (e são) só o meu pequeno príncipe e os dois primos (meus adorados sobrinhos e afilhados).

Apercebi-me que há adultos que voltam a crianças nesta altura: uns revelam o miúdo que há em si com os brinquedos dos filhos, outros nas atitudes infantis. Cada um exterioriza a felicidade que sente à sua maneira, mas desde que venha do interior, há sempre espaço para mais um louco.

O meu pequeno príncipe recebeu, neste Natal, o tão desejado lego que pedira ao São Nicolau. A prenda não veio do barbudo mas dos pais, em forma de reconhecimento pelo seu esforço em mudar o seu comportamento, de mérito pelas boas notas escolares e de gratidão, por ser o melhor filho do mundo.

O meu pequenito é uma criança plena que detém nele todas as características desta época: doce como uma cana de açúcar, cheiroso como um biscoito de gengibre, reconfortante como um chocolate quente, jovial como um boneco de neve, de alma leve como um floco de neve, generoso como o Pai Natal. Perfeito, como o Natal.

Em Família é que é bom!



quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Do brilhozinho nos olhos

Já foi há mais de uma semana mas ainda esta manhã o meu pequeno príncipe me perguntava: “Gostaste de ir ao marché de Noël mamã?” A minha resposta não poderia ser mais sincera: “Adorei filho. E tu?” “Eu também!”, diz ele, ainda a transbordar de emoções.

Sim, fomos ao mercado de Natal! E foi tão bom!

A espera na fila para podermos entrar foi compensada, mas largamente, pela alegria indiscritível do meu menino! Alegria não. Felicidade!

Combinamos que teria direito a uma atração e a uma atividade. Mas aquilo que fez primeiro foi comer o Kürtos. Comer não, devorar! Com tanta satisfação que só de o ver já tudo valeria a pena. “Sabes há quanto tempo eu não comia disto? Dois anos!”, diz ele de boca cheia e coração aos pulos.

Seguiu-se a sempre desejada pescaria – não de patos mas de bolas de Natal. Os prémios são uma bela treta, mas no meio das camelotas conseguiu escolher um peluche dragão, que não sendo de qualidade, tem o seu charme.

Das atrações propostas ainda tentou convencer-nos do trampolim, mas, com jeitinho, aceitou dar uma voltinha na árvore natalina – que além de bonita permitia acompanhamento. Fomos a três: príncipe, mamã e avó. O meu rebento já não se lembrava de ter andado naquele carrocel pelo que o aproveitou como se da primeira vez se tratasse.

Os pés frios e a barriga a roncar exigiam reconforto. Foi hora de atracarmos na barraca das salsichas. Não sendo nenhuma iguaria, são uma tradição. E nós adoramos tradições! O avô atirou-se ao vinho quente e nós ainda partilhamos um chocolate quente.

Mais um giro e a voltinha estava feita. Foi hora de voltar para casa.

Mas não sem antes inspirar os odores de Natal e gravar na memória as imagens deste momento.

O brilho nos olhos do meu menino são alimento para o meu coração de mãe. Regressei a casa de barriga cheia!

A três é que é bom!



quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Da partilha

Desde que tenho memória, sempre adorei o Natal.

E não, não é por causa dos presentes! Aliás, tenho ideia que em criança houve Natais que não recebi nada. Recordo-me de ter um Pai Natal de chocolate (daqueles que sabiam a sabonete) na bota, uma tangerina e camisolas de malha que a minha mãe tricotava… Mas brinquedos só me lembro a partir do momento em que o Luxemburgo passou a fazer parte do meu mapa. A minha última boneca recebi aos 12 anos e fui com os meus pais comprá-la. Um modelo último grito, que falava e andava. Acho que ainda a tenho no meu quarto na casa parental.

Mas como dizia: não são as prendas que me cativam nesta quadra. Nadinha. A ponto de após o nascimento do meu filho, ter sugerido (e convencido) mudássemos as regras das festividades e só os pequenitos é que passaram a receber prendas no Natal.

Após uns primeiros anos de exagero completo com as crianças, voltamos a ajustar os nossos ímpetos consumistas e, além de identificar quem oferece as prendas (não são todas do Pai Natal – este só traz uma, se a criatura merecer…), estabelecemos que só há presentes da família no 24 de dezembro. Deixamos de oferecer por ocasião do Saint Nicolas.

E isto tudo porquê? Porque o Natal não pode ser sinónimo de resmas de presentes!

O Natal é Família, Amor, Amizade, Fraternidade, Solidariedade, Partilha!

Deveria ser assim o ano inteiro. Estamos de acordo.

Mas o certo é que a vida atarefada e atrapalhada muitas vezes não nos dá tréguas e vai-nos impulsionando para a frente, empurrados pela corrente, sem refletirmos no nosso caminho.

Mas em dezembro chega sempre o Natal.
E nesta altura damos por nós a reviver os últimos meses de correrias e a prometermo-nos que para o ano vai ser diferente. Damos por nós a querer parar e aproveitar o agora, com aqueles que amamos.

O Natal tem este poder: o poder de nos lembrar do que realmente importa. A Família. O Amor. A Amizade. A Fraternidade. A Solidariedade. A Partilha.

Para inculcar bem lá no fundo do coração do meu pequeno príncipe o verdadeiro sentido do Natal, há vários anos que replicamos uma iniciativa, que já se tornou uma tradição nossa: fazer bolachas natalinas para oferecer.

Não há nada mais precioso que possamos presentear aos outros que o nosso tempo. Por isso, para aqueles que nos são queridos, nós fazemos com todo o carinho estas bolachinhas, que além de kilos de manteiga e açúcar, levam o nosso ingrediente secreto: o Amor.

O nosso prazer em oferecer redobra pela satisfação que vemos em quem as recebe. São pedaços de afecto comestíveis.

Em abono da verdade, devo esclarecer que o meu pequenote tem uma motivação extra para tamanho empreendimento. É que as iguarias não são todas para oferecer. Além daquelas que ingere mal estão a sair do forno, guardamos sempre umas quantas numa latinha, para nos confortar os dias frios. Nhammm! Tão boas.

Isto sim, é Natal.

A três é que é bom!



terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Dos estereótipos

Comecemos por fazer a distinção entre estereótipo e preconceito.

No primeiro, o principio é o da categorização das pessoas por grupos, assumindo que determinados indivíduos são iguais só porque possuem algumas características semelhantes.
O preconceito implica não apenas uma categorização, mas, mais do que isso, um pré-juízo discriminatório sobre um determinado grupo. Tem, contrariamente ao estereótipo, uma conotação negativa e de desagregação.

Na verdade, o preconceito vem, muitas vezes, do medo do desconhecido. E eu não fujo à regra. Sou preconceituosa em relação a determinadas pessoas, assumindo, sem qualquer prova, que A ou B não se coaduna com os meus princípios e valores só porque é de origem X ou Y.

Estou errada. Sei disso. E quando me apercebo das barbaridades que digo e penso, recrimino-me e procuro focar-me nas pessoas. Mas reconheço que não é fácil.  

E isto vem a propósito de quê? - perguntam-se vocês. Vem no seguimento duma reação espontânea (e nada maldosa) duma querida amiga quando lhe disse que o meu pequeno príncipe anda no grupo coral da escola de música: “O Matias é menino de coro?”

Este é, claramente, um estereótipo que muitos temos. Imaginamos, nas nossas cabeças, que os meninos que andam no coro são uns santinhos, de óculos e roupas impecavelmente limpas.

Olhem que não!

O meu filho (como muitos dos meninos e meninas que fazem parte do grupo) não se enquadra nada neste estereótipo, mas canta lindamente. Tem uma voz doce e afinada e um gosto tremendo em cantar. Foi uma aposta acertada propor-lhe fazer parte do coro. Aceitou e diverte-se imenso.

Tenho a certeza que se soubesse que o grupo coral é conotado como um ajuntamento de totós não gostaria de fazer parte. E teria sido uma perda tremenda. Para si e para o grupo.

Foquemo-nos no que é realmente importante e deixemos de colocar etiquetas nas pessoas.

É importantíssimo educar os nossos filhos para a diversidade e a aceitação, na certeza que também eles são diferentes dos demais. Todos diferentes. Todos iguais.

Deixo-vos com uma foto do meu pequenito, todo aparaltado para a sua segunda atuação com a “Chorale”. Foi de arrepiar.

A três é que é bom!




quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Das nossas decorações natalinas

A expectativa dos grandes acontecimentos é que os torna tão especiais. Por isso, em nossa casa, começamos a preparar o Natal com alguma antecedência, para aproveitar cada momentinho e prolongar ao máximo a alegria desta quadra.

Resistimos, ainda assim, à tentação de começar cedo demais. Finais de novembro já começa a cheirar a Natal, mas só iniciamos a época depois de dezembro começar.

No passado fim de semana metemos mãos à obra e fizemos o nosso pinheirinho. Já há alguns anos que optamos por uma árvore de verdade. O cheiro e a textura são inigualáveis. E as agulhas que vai largando não são de natureza a fazer-me desistir.

Coloca-se a questão ambiental: será audacioso comprar um pinheiro que mataram em pleno crescimento? Tendo em conta que são árvores plantadas propositadamente para venda nesta altura e que no lugar de cada uma decepada, crescerá outra, não é pior que todo o plástico das árvores artificiais.

E, como todos os anos, o nosso pinheiro de Natal ficou lindo!

O pequeno príncipe e eu temos um prazer desmedido a montar o pinheiro. Ao som de músicas de Natal, é com esmero que colocamos cada bola. É com satisfação que revemos as nossas decorações e recordamos o quanto gostamos desta ou daquela. É um momento mágico que não troco por nada.

O culminar é quando o papa pega no pequenote às costas para que coloque a estrela bem lá no cimo e ficamos os três a admirar a nossa obra, suspirando de satisfação.  

Além das decorações para a árvore, não temos uma panóplia assim tão grande de material. Todos os anos sinto que me falta alguma coisa, e, a cada Natal, vou adicionando uma coisita ou outra. A nossa nova paixão são as bolas de neve. Comprei uma a pilhas, que tem luz e projeta a neve numa paisagem idílica de inverno. Não é suficientemente natalina, mas é muito gira.

Ao longo dos anos também tenho insistido com o meu filhote para que coloque mãos à obra e façamos qualquer coisa de único. Temos várias peças feitas de “perlen” – que fizemos em natais passados – e às quais já demos usos variados: uma árvore na parede, como decoração numa árvore feita de paus… Desta vez colocamo-las na coroa de Natal. Tão maravilhosa que ficou.

São momentos destes que me enchem o coração.

All I want for Christmas is this: Love & Family.

A três é que é bom!




terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Das agruras da vida

Independentemente desta ter sido uma conclusão de génio que fez avançar o mundo, tenho para mim que não era preciso ter uma cabeça excecional para descobrir que as nossas ações desencadeiam consequências. Boas ações, boas consequências. E o contrário também se aplica.

E na manhã de ontem, foi dia de ver esta sentença a acontecer…

Como já tinha partilhado, o meu pequeno príncipe tem sido rei na sua determinação em fazer o que lhe apetece e como lhe apetece. Mesmo tendo recebido alertas de que poderia vir a colher tempestades, decidiu semear ventos.

Conclusão: não foi com espanto que descobriu que o Saint Nicolas não lhe trouxe o lego que lhe tinha pedido. Disse-me que não ficou triste por ter recebido um livro (um livro personalizado – A magia do meu nome Matias, com mensagem do Saint Nicolas) porque recebeu alguma coisa, e que isso era o fundamental. Relembrou que temia receber um pau, pelo que ter um presente debaixo do pinheiro fora uma boa surpresa.

Apesar das suas palavras, partiu-me o coração ver a tristeza e desilusão estampadas no seu rosto. E, podem acreditar, não lhe custou mais a ele do que a mim.

Nestes últimos dias, por mais de uma vez tive de resistir (e obrigar o papa a resistir também) à tentação de lhe comprar uma prenda que correspondesse um pouquinho às suas expectativas e o deixasse feliz.

Mas o nosso papel de pais obrigou-nos a mostrar-lhe que os seus atos trazem consequências. Se o Saint Nicolas premeia os meninos que se portam bem, não pode trazer presentes para as crianças que não sabem ter tento na língua e respeitar as regras.

Devo confessar que a dada altura tinha planeado dar-lhe o castigo máximo e deixar um pau na árvore… Mas, além do pai não concordar – e a educação de um filho é a dois que se conjuga – temi que o choque fosse demasiado e lhe criasse revolta.
E também sei que seria demasiado.
Por mais mal que se comporte, está muito longe de ser um bandalho.

O meu filhote é um menino cheio de vida e que tem sempre muita coisa para dizer. A boca é muitas vezes mais rápida do que o pensamento, e, tal como o peixe, acaba por ser a sua perdição.

Espero, sinceramente, retire a lição do que sucedeu este ano e possa desfrutar plenamente dos barbudos desta quadra nos anos vindouros… até que a magia desvaneça.

Bom… Se puxar à mãe, terá 90 anos e continuará a ver trenós no céu…

Amo-te meu Amor.

A três é que é bom!



terça-feira, 30 de novembro de 2021

Do Amor para a vida toda!

O meu pequeno príncipe é filho único. Esta fora uma decisão nossa, mesmo antes de ter engravidado. Além de ter sido mãe já com 35 anos, não me via (nem vejo) capaz de gerir uma vida com mais do que uma cria. Se com um já não tenho tempo para nada, com dois, três, quatro... enlouquecia.

A dada altura – e isso acontece com todas as crianças – o meu filho disse-nos que queria ter um irmão, para ter com quem brincar. Explicamos-lhe que não estava nos nossos planos ter mais do que um filho mas que percebíamos que lhe faria bem ter companhia.
Por conseguinte, prometemos-lhe um animal de estimação.
Tem um cão desde janeiro de 2020. E tratam-se como se fossem irmãos de verdade. São ciumentos um do outro, com arrufos e pequenas quizilas. Gostam-se, só que não. Uma espécie de: "je t'aime, moi non plus".

Com quem o meu rebento tem uma relação maravilhosa é com a prima. A minha querida e adorada sobrinha e afilhada.

Não creio que qualquer amor fraterno fosse superior ao amor que os une.
Eu tenho um irmão – o pai da minha sobrinha! – e a nossa relação nunca foi um quinto da relação dos nossos filhos. Entendem-se até no desentendimento.

O macho Alpha da relação é a menina. É mais velha um ano e sempre teve o ascendente sobre ele. Mas não, não é uma relação de submissão. É uma relação coordenada e harmoniosa, de carinho e respeito mútuo, de pura cumplicidade.

No passado domingo, e como já contei, fomos ver o meu filho cantar no concerto de Natal. A minha princesa (rainha, como ela tanto gosta de se auto-nomear), ainda não tinha ouvido o primo e já apregoava que ele era o melhor de todos e que ela é a sua maior fã. A fã número um! Quis gravar o concerto completo, fazendo “xiu” à audiência, para poder ouvir o seu Matias.

Isto é Amor!

Não são irmãos. Mas são família. E no núcleo duro da nossa família, vale o mesmo. Estamos cá uns para os outros. Sempre. 

Será um Amor para a vida toda. Tenho a certeza!

A três é que é bom!



segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Do peito inchado

Bem sei que estes últimos tempos tenho vincado mais os defeitos do que as qualidades do meu pequenito. O facto de não conseguir comportar-se convenientemente tem-me toldado o espirito, levando-me, por vezes, a concentrar a atenção no que faz de mal, esquecendo-me do quanto de bem que indiscutivelmente tem.

Mas não é porque tem “imperfeições” que deixa de ser um menino maravilhoso e com um coração bonito. É. E muito.

Neste ponto, concedo que preciso de me lembrar que, mesmo nas reprimendas, o meu príncipe tem de sentir o tamanho do meu Amor por ele e perceber que é a enorme preocupação que me obriga a ser mázona como ele tantas vezes me chama.

Mas ontem não foi dia de ser má. Ontem foi dia de inchar o peito de orgulho!

Explicando: sempre achei que o meu pequeno príncipe canta bem e duas das suas antigas professoras corroboraram o meu pensamento, ao sugerirem que o colocasse no canto. Propus-lhe e ele aceitou. Portanto, desde o inicio do ano letivo, frequenta o grupo coral da escola de música.

A sua primeira atuação em público aconteceu no mercado de Natal da nossa cidade, neste domingo.

A seu pedido, convidamos os padrinhos e primos para o concerto, ao qual se juntaram amigos. E foi tão bom!

Nos cerca de 30 minutos que durou o espetáculo, deleitaram-nos com musicas natalinas em todas as línguas. Se estavam muito afinados não sei, mas que formavam um quadro ternurento, formavam.

É claro que o mais lindo dos meninos era o meu. Lindo por fora e delicioso por dentro. Canta com o coração e isso vê-se.
Bem… também se viram os olhares ameaçadores ao papa, que só no final do concerto soube que estava à frente de um colega do filho, a tapar a visão – e daí as ameaças que lhe chegaram do palco.

Este meu filho é um pontinho. Um pontinho cheio, redondinho, daqueles bem plenos! Um pontinho que um dia desabrochara e, estou segura, se tornará numa versão melhorada do tudo o quanto quero para ele.

A três é que é bom!



segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Das medidas desesperadas

Em minha defesa começo por dizer que tudo o que faço é a pensar no melhor para o meu pequeno príncipe. Dentro dos limites da legalidade - podem acusar-me de muita coisa, mas não de ser uma fora da lei - não olho a meios para atingir os fins.

Contextualizando: o meu filho está renitente em acatar regras e não tem um comportamento exemplar na escola. Basicamente fala sem pedir licença e responde quando deveria estar caladinho. Não tive queixas do professor, mas sei pelo próprio faltoso que tem perdido estrelas por não saber controlar os seus ímpetos.

A sua noção de que se porta mal é tanta que, depois de andar a folhear os catálogos dos brinquedos há umas 3 semanas, não quis escrever nenhuma carta para o Saint Nicolas porque, segundo me disse, não tem hipótese de reconversão. Sabe que não se comporta bem e que merece receber um pau do Père Fouettard. Até sonhou que acordava a 6 de dezembro e tinha um chamiço debaixo da árvore.

Da minha parte já tentei de tudo e mais alguma coisa para o fazer ver que só se prejudica com esta mania de fazer como lhe apetece. Já dialogamos. Já gritámos. Já fiz promessas. Já fiz ameaças. Já o pus de castigo. Nada. Uns dias resulta, mas volta ao mesmo.

É de arrancar cabelos.

Há dias, recordando a nossa conversa e atenta a sua convicção de que já não vai a tempo para fazer as coisas bem, tive uma ideia desesperada. Recorrer às forças divinas. Apelar àqueles que fazem magia e convertem os mais cépticos. Pedir socorro ao São Nicolau em pessoa.

Atenção! Estou segura que isto não foi nenhuma usurpação de identidade e que foi o próprio Saint Nicolas que me soprou esta ideia ao ouvido! Ele perdoar-me-á por apregoar o seu nome, que foi tudo menos em vão.

Então eis o que sucedeu: o Saint Nicolas escreveu uma carta ao meu pequenino. Quando abriu o envelope e leu o seu teor, ficou com os olhos marejados de lágrimas. Não chorou, mas a mim deu-me muita vontade de o fazer.

Se este meu filho soubesse o quanto é espetacular! Só mesmo ele é que não vê!

Quanto ao meu plano, não faço ideia se vai resultar. Temo que não.
Na sua carta de resposta – sim! Finalmente escreveu ao Saint Nicolas – diz coisas bonitas, mas não se compromete a mudar. E foi intencionalmente que não colocou que se iria portar bem. Desconheço se por medo de falhar ou se por ter a certeza de que não vai cumprir…

Ser mãe é a profissão mais difícil do mundo. Mas é a única na qual eu me invisto com tudo e da qual não abro mão.

A três é que é bom!




quinta-feira, 11 de novembro de 2021

Das “notas, castigos e prémios”

Este é o título da última crónica sobre dicas/educação -  da autoria de uma psicóloga e de uma professora -  com tiragem num conhecido jornal português aqui do sítio.

É que nem de propósito. Vem de encontro às minhas preocupações do momento.

Li, portanto, com toda a atenção a opinião das ilustres doutoras e recomendo.

No entanto, e se me permitem, a abordagem do tema peca por não ser suficientemente abrangente.

Quid das crianças que sabem perfeitamente a matéria mas estão com a cabeça sabe-se lá onde e fazem asneiras nos testes? Consecutivamente. E não, não estão a passar por nenhum episódio traumático que o justifique, nem tão pouco sofrem de ansiedade perante fichas de avaliação.

O meu querido e adorado filho, por quem tenho um amor e orgulho desmedidos, fez porcaria nos três últimos testes, por pura distração. Num momento escreve bem a palavra, na linha seguinte escreve com erros. Ao escrever o resultado de uma conta, coloca as dezenas e esquece as unidades… Isto é o quê? É coisa de deixar a mãe à beira de um ataque de nervos.

Eu sei – e assumo sem qualquer pudor – que sou muito exigente com o meu pequenote. Mas sou aquilo que ele fez de mim. Eu não posso deixar de me indignar com os resultados se sei que são fruto de uma cabeça de vento. Não é stress, não é medo de falhar, não é bloqueio mental… é pura e simplesmente fazer a correr para passar a outra coisa.

As senhoras doutoras não souberam/quiseram responder o que se faz nestas circunstâncias.

Em minha casa o que se passou foi o seguinte: ao terceiro teste com erros de palmatória (aqueles imperdoáveis, porque sabe a resposta – até porque faz a correção sem qualquer ajuda – mas responde errado), ficou de castigo.

Não fui severa como ele merecia. São apenas 3 dias sem ver televisão (a sua perdição).  

A minha relativa clemência deve-se ao conhecimento de que a época pré-natalícia o deixa em pulgas e ao meu receio de tornar os castigos contraproducentes. Mas tudo isto me deixa furibunda e baralhada e sem saber o que fazer para o ajudar.

Custa-me vê-lo desperdiçar as energias em futilidades. Centrar o seu pensamento em banalidades e relegar para segundo plano o fundamental.

Sei que quando não tem testes só de estrelas que fica furioso e desiludido consigo mesmo. Esta sua consciência de que é capaz de melhor dá-me esperança de que da próxima vez se concentre e os testes sejam o reflexo das suas capacidades, conhecimentos e competências.
Se pode ser excelente, porquê contentar-se com bom?

Este, como outros, é só mais um caminho tortuoso que vamos palmilhar juntos. Porque, por mais ameaças que faça, eu nunca vou desistir do meu pequeno príncipe e de o arrastar para o melhor de si.

A três é que é bom!





segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Do Amor

O título mais evidente para esta entrada seria “Do aniversário do papa”, mas optei por uma denominação que além de mais curta, é mais próxima da verdade. Neste fim de semana não celebramos apenas o aniversário do pai. Foi uma ode completa ao Amor.

A nossa prenda para o nosso rei foi toda germinada à volta do carinho, afeição, dedicação e entrega. Coisas que o dinheiro não compra e que a mentira não reproduz. Só quem as sente as consegue transmitir.  Fizemos do nosso melhor, o meu pequeno príncipe e eu, para que o papa sentisse o quanto é especial nas nossas vidas e o Amor enorme que temos por ele.

E como os homens se prendem pela barriga, também não faltou a parte gastronómica.

A receita do bolo foi o aniversariante que elegeu, tudo o resto foi pensado para proporcionar momentos de partilha. Escolhemos alguns dos pratos favoritos do papa, que confecionamos a várias mãos (os primos e padrinhos juntaram-se à festa) e aos quais juntamos sempre o ingrediente secreto, que faz com que todas as iguarias tenham um sabor inigualável: o Amor.

Que sortudos que somos de termo-nos uns aos outros.

A três é que é bom!



quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Da baba e ranho

Nesta entrada vou partilhar o que se chama um verdadeiro petit coup monté.

Estava tudo planeado. Não nos pormenores mas no resultado.

Então foi isto:
Já várias vezes contei que o meu pequeno príncipe tem uma relação ambígua com o nosso Mickey. A voltinha prevista é sempre demasiado longa, ou está demasiado frio, ou muito calor, ou seja lá o que for... levando-o a tentar reduzir ao máximo o tempo que passamos na rua com o bichinho. Mesmo em casa não posso dizer que seja um dono adorável. Tem momentos que demonstra um enorme carinho pelo cão mas noutros age como um totó ciumento e mal intencionado. Por mais pedagogia que tenha empregado ao longo destes, em breve, 2 anos que temos o nosso patudo, não almejei grandes progressos.

A dada altura tinha-lhe falado de um filme que vi há mais de uma década e que me tocou muito. Baseado num livro com o mesmo nome, retrata a vida de um cão de família. Disse-lhe que seria um excelente filme para ele ver, porque tinha a certeza que a sua visão do mundo seria alterada. Cheguei a procurar pela película nas plataformas streaming, sem sucesso. Qual não foi a minha surpresa quando vi, na semana passada, o Marley & me na Netflix?

Avisei logo em casa que, como o fim de semana se anunciava chuvoso, haveria sessão de cinema – para quem adora televisão, não poderia apregoar melhor programa. Também informei qual o filme que veríamos e expliquei ao meu filho que estava consciente que haveria muita baba e ranho no final, mas que era um mal necessário.

Obviamente não me enganei.

Segunda-feira, dia dos Finados, estávamos os três frente à televisão a descobrir as peripécias do pequeno e depois grande labrador e da sua família que passou de 2 para 3 elementos e mais tarde para 6 (com o nascimento dos 3 filhos), acompanhando a evolução das suas vidas. 
O cachorro, asneirento e com medo da trovoada, tem uma existência plena. Feliz. Numa família que o ama e a quem ele retribui o mesmo carinho. Contudo, e já numa idade avançadota, é-lhe diagnosticada uma doença incurável e os donos decidem pôr fim ao seu sofrimento.

Neste ponto, em nossa casa, um observador constataria o seguinte cenário:
- um adulto, que nunca chora, de olhos marejados;
- uma adulta, que já de si faz beicinho em filmes animados, a fungar e soluçar;
- uma criança, reconhecidamente sensível, em prantos, a chorar sofredora e ruidosamente.

O meu pequeno príncipe não aguentou ver quando o Marley estava para ser anestesiado e fugiu a abraçar o seu cão. Voltaram os dois, com o meu pequenote pendurado no pescoço do seu Mickey com promessas de nunca mais ser um dono desleixado.

Ninguém com o coração no sitio certo resiste a este filme sem que lhe escorra uma lágrima pela cara abaixo.

É claro que o facto de nos revermos nesta história - e anteciparmos a dor que será perder o nosso fofinho - ajudou ao diluvio que se viu.

Nessa mesma tarde, quando saí com meu filhote para passear o Mickey, olhou-me nos olhos e disse: "avec ce film tu m'as mis sur le bon chemin". 

A três é que é bom mas a quatro somos mais avariados!



terça-feira, 2 de novembro de 2021

Do Halloween

No dia 31 de outubro, no tempo da minha avó, as pessoas passavam a noite no cemitério, a garantir que as luzes das campas se mantinham vivas até ao amanhecer – iniciando, desta forma, a celebração do dia de todos os Santos.

No meu tempo já ninguém dormia no cemitério – aliás, estas histórias que a minha avó contava eram do mais parecido com filmes de terror reais: arrepiava-me toda só de pensar que alguém passava a noite entre os mortos.

Na minha juventude começou-se a ouvir falar do Halloween – nas aulas de inglês e nos desenhos animados. E recordo o dia em que, com o meu irmão, pegamos numa chila (a minha tia não nos deixou estragar nenhuma abóbora), lhe moldámos uns olhos, um nariz e uma boca e a colocamos no estradão debaixo de nossa casa (na parte mais escura), com uma vela acesa dentro. Boooo. Que medo! Consta que um dos nossos vizinhos ao passar na moto se borrou de medo.

Hoje em dia os miúdos vivem o Halloween como se toda a vida tivesse feito parte da nossa tradição. É um dos efeitos da globalização. Já nada é próprio. Tudo é de todos e perdem-se as raízes – convenhamos que é mais fácil aderir às celebrações do Halloween do que passar a noite no cemitério!

Vai daí, o meu pequeno príncipe andava em pulgas pela chegada do dia das bruxas.

Os fatos de anos passadas já não lhe servem pelo que este ano recebeu um de “dinossauro esqueleto”. Devo esclarecer que a escolha da indumentária teve que tomar em linha de conta o facto do meu pequenote ter medo dos disfarces mais horrendos. Aliás, no sábado fomos passear o Mickey e ele insistiu para passarmos frente a uma casa super decorada, com caveiras, abóboras, esqueletos, bruxas e até um Chucky! Conclusão: à noite não conseguiu dormir sozinho porque aquelas imagens não lhe saíam da cabeça.

Voltando aos festejos, no sábado foi dia de recortar a abóbora. O meu filho é muito bom nos trabalhos de equipa: ele escolheu a forma e a mãe fez o resto. Já me devo dar por feliz que não criticou a obra e ainda achou que ficou bem bonita. Eu também achei!

No domingo, embora a reunião familiar fosse para celebrar o aniversário da madrinha (que faz anos a 30), o dia ficou marcado pela euforia do Halloween. Com os primos vestiram-se e pintaram-se a rigor (tenho dotes escondidos que se revelam de acordo com as necessidades) e passaram o dia a ansiar o escurecer para irem tocar às portas da vizinhança.
As restrições que ainda marcam estes tempos limitaram a incursão a 5 casas, mas se só nestas encheram 3 sacos de doces e receberam 20 €, não sei o que seria se dessem a volta à localidade. Divertiram-se imenso e comeram muitas porcarias. Um dia pleno, portanto.

Da minha parte, que não aprecio por aí além o Halloween só tenho uma coisa a dizer: estou pronta para começar nos filmes de Natal. E nas músicas de Natal. E nas bolachas de Natal. E nas decorações de Natal. 😊

Ah! Para que conste: o meu filho dizia-me ontem que o Halloween é a sua terceira festa favorita. O seu aniversário está em segundo lugar. Em primeiro chega quem? Pois claro! O Natal! 😄

A três é que é bom!



sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Da esperança

Embora me repita a mim mesma, todos os dias, que os cabelos brancos que se atropelam na minha cabeça vão valer o seu sacrifício no futuro, há alturas em que me pergunto se realmente colherei os frutos do que ando a semear.

Será que o meu filho ouve o que lhe dizemos e compreende que só queremos o melhor para a sua vida? Será que lhe fica alguma coisa das lavagens cerebrais diárias? Da expurgação que tentamos fazer dos maus vícios a que está tão irremediavelmente exposto?

Ontem à noite senti que sim. Acreditei que se tornará um ser humano de valor, não apenas porque é uma criança doce e meiga, com um coração bom mas também, indubitavelmente, graças ao nosso acompanhamento, empenho e dedicação.

Estávamos a jantar e já não sei como, falámos do papel dos pais na vida dos filhos e do quanto certas medidas que são vistas por estes como malévolas, visam apenas protegê-los das atrocidades do mundo.

O papa dizia: quando tiveres os teus filhos vais perceber que tiveste (e tens) pais espetaculares. Inicialmente o meu pequeno príncipe repetiu o que já nos tinha dito várias vezes: eu não vou ter filhos. No entanto, e reponderada a hipótese de os ter, afirmou que faria com eles o que nós fazemos consigo: controlar os conteúdos que vê na televisão, para que não cresçam com o “cérebro roto”.

Explicou-nos que se apanhasse os seus herdeiros a prevaricar (o exemplo que nos falou foi: a ver o Naruto) que os punha 3 meses de castigo, com a obrigação de aprender a história de Portugal num ano.

É um castigo bastante curioso, este de aprender história. E severo, o da proibição de ver ecrãs durante tanto tempo. Nunca lhe impusemos mais do que uma semana de detox. É caso para dizer que o aprendiz supera o mestre.

Desta conversa retiro que o meu pequenote compreende perfeitamente que as limitações que impomos à sua vida são para o proteger e que são das maiores provas de amor que lhe poderíamos dar.

A três é que é bom!



quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Do que a natureza nos dá

Uma das coisas que não consigo fazer durante a semana, e que lamento, é caminhar. Embora vá a pé levar o meu príncipe à escola e faça pequenos trajetos na hora do almoço, são pouco mais do que meia dúzia de metros e não chega para ser qualificado como caminhada.  Tem dias que os passos efetuados não bastam para que não seja classificada como uma pessoa sedentária.

Por conseguinte, ao fim de semana temos de compensar.

A tarefa “ir passear o Mickey” tem, portanto, um significado muito mais abrangente que o simples facto de levar o cão à rua. É claro que todos os dias sai: de manhã vai connosco à escola; à tarde vai buscar o dono ao acolhimento; e à noite dá mais um giro. Mas ao sábado e domingo prevemos sempre um grande passeio, para que possa esticar as pernas – ele e eu também.  

O papa nem sempre nos acompanha – ocupado a cumprir outras lides – mas o pequeno príncipe não tem escapatória.

Já contei que refila e reclama e faz todo um cinema para sair, convencido que, se ficasse em casa, poderia alapar o cu no sofá a ver televisão. Mas não lhe serve de nada. “O cão é teu, tens de te ocupar dele” –  frase que uso invariavelmente, para lhe incutir o sentido da responsabilidade.

Portanto, obrigado a sair, uma parte do trajeto – quando não todo – é passada a barafustar. Porque isto, porque aquilo, patati, patata.

Embora na esmagadora maioria as nossas saídas acabem por ser, finalmente, extremadamente agradáveis e gratificantes, é cansativo ouvir a mesma ladainha, como um disco riscado. Por isso, tento distraí-lo das barbaridades que diz, arrastando a conversa para outro assunto que não seja o “passear” e mostrando-lhe as coisas singulares que cruzamos no caminho. Procuro chamar a sua atenção para detalhes na paisagem, as cores, os sons, as obras de arte que a natureza cria, sem a mão do homem.

Nos dois últimos fins de semana decidimos apanhar castanhas (daquelas que não são comestíveis) para fazer o que eu chamei “um projeto de outono”.  
E no domingo à tarde, depois de uma excursão em família pela floresta, estivemos a conceber, a 6 mãos, a nossa coroa outonal. O pequenote bem que se divertiu a perfurar, com a ajuda do papa, as castanhas com a máquina de furar.

Não tendo resultado numa coisa espetacular – porque me faltava algum material – foi elaborada num momento de partilha e isso é que é o mais importante. O tempo que passamos juntos. O tempo que dedicamos uns aos outros. O amor.

A três é que é bom!





 

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Dos progressos

Nem sempre fui assim.
Tempos houve em que ia com alguma regularidade à natação e cheguei a fazer aulas de hidroginástica – as últimas durante a gravidez [estas foram sessões que me deram um prazer descomunal. Uma das monitoras parecia um sargento da tropa, a puxar pela terceira idade que constituía o meu grupo. Na minha plenitude de mulher com o rei na barriga, fazia o que me apetecia, exibindo com orgulho um ventre avantajado].

Contudo, desde que tenho o meu pequenote – e que afazeres é o que não me falta – todas as desculpas são boas para me furtar a uma ida à piscina.

Porém, e quem tem filhos sabe disso, a persistência deles é à prova de bala. Chega sempre o momento em que temos de ceder. Se não para dar o exemplo – e mostrar que os pais também fazem coisas que não gostam – ao menos para lhes fazer prazer.

Conclusão: ontem foi dia de dar um mergulho!

Na verdade, o nosso filho tinha um argumento muito válido para nos querer levar à piscina: é que depois de o termos demovido do futebol, conseguimos convencê-lo das virtudes da natação (que frequenta desde meados de setembro) e ele queria muito mostrar-nos o que já sabe fazer.

Como as aulas são aos domingos de manhã – para não quebrar o ritmo de levantar cedinho todos os dias 😝– combinamos que faríamos uma hora de natação os 3, logo a seguir.

Indiscritível a alegria e boa disposição do meu menino, todo contente de nos ter ali consigo e empenhado em demonstrar os seus progressos – que são evidentes! A última vez que o tinha visto numa piscina a tentar fazer alguma coisa que se assemelhasse com nadar, fora no verão. A sua evolução foi enorme! Precisa trabalhar a respiração mas já se desenrasca bastante bem.

Mostrou-nos como sabe nadar de bruços, de costas, de crawl e até fazer de tubarão. Esta foi uma invenção sua: nada com as mãos unidas nas costas, fazendo realmente lembrar a barbatana desses “monstros” dos mares, devoradores de tudo o que mexe.

Sei que não será uma atividade a repetir com a frequência que o filhote gostaria – requer demasiada logística – mas vamos tentar ser mais assíduos. Porque o seu sorriso rasgado é sem preço.

A três é que é bom!



sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Ich komme aus...

Quando re-cheguei ao Luxemburgo, e numa tentativa vã de valorizar o meu CV, decidi inscrever-me num curso de alemão. A formação destinava-se a adultos analfabetos na língua germânica. Ou seja: nível para principiantes.

Num ano de formação, 90 minutos por semana, além das frases elementares que nos ensinam quando aprendemos uma nova língua, decorei a seguinte máxima: “Ich spreche nach ein bisschen Deutsch” (eu já falo um pouco alemão). É mentira. Mas pelo menos essa frase não esqueci.

De entre as bases que assimilei em alemão, aprendi que quando me perguntam “de onde é que vens”, a minha resposta é “ich komme aus Portugal.”

Antes de ontem, enquanto revia os trabalhos de casa com o meu pequeno príncipe, caí numa ficha que tinha feito na escola, cuja missão era responder a algumas perguntas com vista à sua apresentação. E, curiosamente, à questão “wo kommst du?” ele respondeu “ich komme aus Pétange”.

Hum... é verdade. Quando nasceu vivíamos naquela localidade, de modo que a sua origem é, a bem dizer, ali. Mas a sua resposta soou-me estranha, esquisita!

Fez-me refletir que as nossas origens não são propriamente o sítio onde vimos a luz do dia pela primeira vez. Podem ser coincidentes, mas muitas vezes não há nada que nos ligue ao local/país do nascimento.

O meu filho pode indicar Pétange como a terra natal, mas o seu coração é todo luso. Independentemente de hoje ter duas nacionalidades, a sua génese é toda portuguesa. É um português que não vem de Portugal. Um português do mundo. 

A três é que é bom!



quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Do estranho mundo em que vivemos

Eu não sou consumidora de televisão – no sentido abrangente, que inclui cinema, internet e plataformas de streaming. Sou quase uma espécie de info excluída, porque não acompanho (por falta de tempo e pachorra) as séries e filmes que toda a gente vê.

Não vejo, mas oiço falar.

O problema é que, não raras vezes, é o meu filho quem chega a casa a falar-me dessas novidades.

Aconteceu com a Casa de Papel -  cantarolava a “Bela Ciao” com 5 anos, porque ouvia a musica na Maison Relais (nota: o seu grupo era dos 4-6 anos).

Aconteceu com o Naruto, aos 6 anos, porque dois colegas de escola tinham “cartas” e o educador da Maison Relais os deixava ver a série do portátil.

Ainda não aconteceu com Squid Game. Ou pelo menos ele nega andar a jogar a brincadeiras violentas inspiradas em séries da Netflix. Fruto de todas as notícias que correm sobre esta nova série, o meu marido tem-no bombardeado com questionamentos e, ao que parece, ainda não se expandiu pelo seu ciclo de contactos.

Estamos de olho!

Que ele me chegue a casa a falar do Spiderman, do Pokemon e do Dragonball, eu até compreendo. São desenhos animados que ele não vê – porque considero que daí não tira nenhum proveito – mas que são mais ou menos para a sua idade.

O que eu não entendo é: como é que os outros miúdos chegaram ao conhecimento de séries para maiores de 16 ou 18 anos? Não me venham com a história de que vêm por causa dos irmãos mais velhos. Em minha casa não há irmãos mais velhos, mas há controlo parental – não apenas na aplicação, mas na presença e acompanhamento. Controlamos o que o nosso filho vê na televisão. Nunca tem acesso livre à tablete, computador ou smartphone.

Se ele aprecia as restrições? Não, não aprecia. Pede muitas vezes para ver desenhos animados sem conteúdo. Mas a resposta é inequívoca: ou vês o que é adequado para a tua idade ou apagas a televisão. Tão simples.

Nós fazemos o nosso trabalho. Outros pais não. E por culpa deles, sofrem todos. Porque na escola e no acolhimento os maus exemplos espalham-se como rastilho de pólvora.

Quase me apetece dizer: que bom que seria voltar à idade da pedra.

A três é que é bom!



segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Da repartição de tarefas

Os nossos fins de semana estão longe de ser prazenteiros, de papo para o ar ou alapados no sofá, a desfrutar de momentos de ócio e relaxe. Não. Não são nada disso. São, até, bastantes vezes o contrário. São preenchidos de afazeres e atividades, que se não forem bem planeados, geram stress e caos.

Cada um de nós – os pais – tem definido o seu plano de trabalho, e esforçamo-nos por o cumprir. Que remédio…

Mas aparecem sempre aquelas outras tarefazinhas que não são habituais mas que precisam de ser feitas.

E o Outono (estação do ano que eu odeio – nunca vos disse, pois não?! 😝 ) é perito em acrescentar empreitadas extra na vida das pessoas. Falo da queda das folhas, naturalmente.

O nosso jardim é agraciado pelas folhas do nosso plátano (ou lá o que é aquilo) e por folhas das árvores da vizinhança, sobretudo da nogueira que pende metade para o nosso lado (e que este ano quase nem deu nozes, mas folhas não lhe faltam).

Já não me recordo das circunstâncias em que ouvi pela primeira vez esta máxima, mas que é certeira, lá isso é: onde toda a gente ajuda, nada custa.
E foi nessa premissa da colaboração e repartição de tarefas que deleguei no meu pequeno príncipe a colheita das folhas mortas do jardim. Para lhe dar a oportunidade de se fazer/sentir útil.

Não ficou entusiasmado com a missão. Protestou e tentou furtar-se à responsabilidade. Mas não teve outra opção que não fosse pegar no ancinho e acumular as folhas num montículo.

Fui observá-lo da janela. Com o Mickey a saltitar à sua volta e a espalhar as folhas empilhadas, vi o esmero e dedicação com que deitou mãos à empreitada. No final felicitei-o pelo trabalho, tendo-lhe agradecido por nos ajudar.

Mais do que o empreendimento em si, é o princípio. Perceber que as coisas não caem do céu e que sem esforço nada chega. Não só na escola mas em tudo na vida.

Isto já foi na semana passada.

Esta semana voltei a delegar-lhe a recolha das folhas mortas mas, com o apoio do pai, alegou que relva estava muito molhada e tempo muito frio. Fiteiro. Quem foi que as apanhou, quem foi?

A três é que é bom!




sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Da desdramatização 2.0

Enquanto escrevia o post anterior dei comigo a pensar que o princípio da desdramatização me era extensível a mim mesma. A mesma linha de pensamento ocorreu aos meus dois mais fieis leitores.

Em conversas distintas com ambos dei comigo a assumir que talvez tenha exagerado um pouco na reação às palavras do meu pequeno príncipe no domingo passado.

Na altura fiquei muito magoada com o facto de me ter “escolhido” para morrer.
Mas essa dor foi extrapolada porque:
1- sei que não passo muito tempo com ele – e isso mortifica-me – pelo que a sua seleção soou-me a chapada de luva branca;
2- ultimamente só tenho coisas que me ralam;
3-  e odeio o outono, o que só por si chega para andar rabugenta e mal disposta.

Reagi como uma idiota.

E esta entrada é para mim.

Eu sei que o meu filho me ama. Ponto.

Tudo o mais são dramas e reações hormonais de mulher de meia idade a precisar de um abraço apertado. Do filho.

A três é que é bom!



quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Da desdramatização

Quantas vezes nos queixamos de que a nossa vida é monótona e repetitiva. Todos os dias são iguais. Vemos as mesmas pessoas, passamos pelos mesmos sítios, fazemos as mesmas coisas.

E de repente alguma coisa de inesperado acontece e perturba essa tranquilidade do dia-a-dia sem história.

O proveito que tirámos dos novos acontecimentos depende muito do nosso estado de espírito e também da perspetiva pela qual nos é apresentada essa realidade.

Isto vem a propósito da passada sexta-feira.

O meu pequeno príncipe assistiu a um atropelamento.
Um jovem que atravessava a passadeira com o skate foi colhido por um carro, tendo sido propulsado no ar, embatendo no vidro, que se estilhaçou. Não deve ter sido um espetáculo bonito de ver (foi durante as aulas de canto, por isso só conheço a história na terceira pessoa) e lamento que o meu filho tenha vivenciado tal acontecimento.

Mas aquela que podia tornar-se numa experiência traumática – repetiu inúmeras vezes o que viu e senti que aquilo não lhe ia sair da cabeça facilmente –  foi aproveitada para uma chamada de atenção sobre os perigos da estrada.

Focamos constantemente a nossa abordagem no facto do rapaz ter sobrevivido – com dores, é certo! – realçando a importância de fazer muita atenção quando andamos na estrada, seja a pé, de bicicleta, trotinete ou skate.

É claro que o que viu lhe ficou gravado na alma, mas creio que a “desvalorização” do sucedido lhe permitiu que se centrasse no essencial: a vida. O menino sobreviveu.

A três é que é bom!



segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Da feliz contemplada

Embora o meu conceito de família seja relativamente alargado – tenho família de coração que amo e me faz muito mais falta do que muita família de sangue – ontem foi dia de estar com A Família! Não todos (porque meus pais e minha tia estão longe), mas os que vivem perto de nós: o meu irmão, a esposa e os meus queridos e adorados sobrinhos/afilhados.

Se é verdade que o meu filho tem outros primos, não é menos verdade que só conhece a Leonor e o João. E com a prima tem uma relação de amor inigualável a qualquer outra. E já verão mais à frente o seu alcance.

O dia esteve soalheiro e seria um desperdício passa-lo entre quatro paredes. Por isso saímos todos de casa, rumo à floresta, com a importante missão de encontrar santieiros – uma espécie comestível de cogumelos, característica pelo chapéu e o anel.

Encontramos muitas variedades de cogumelos, que, embora possam ser comestíveis, tememos que o fossem apenas uma vez… e não arriscámos. Percorremos alguns largos metros até que o meu marido encontrou aquele que se viria a revelar único – um santieiro (dois em estado de decomposição não contam). Grande e ainda fechado, apresentava já algumas marcas de guerra. Mas nunca se desperdiça comida.

É claro que a tentativa de o fazer cheirar ao Mickey e mandá-lo encontrar mais só serviu para a gargalhada geral.

O resto do trajeto foi infrutífero na colheita de fungos mas prazeroso nos momentos partilhados. Tenho várias fotos do meu pequenote e da minha afilhada que mostram o quanto se gostam e o bom que seria se passassem mais tempo juntos.

Já perto dos carros e atendendo a que um santieiro não poderia satisfazer tanta gente, o meu filho perguntou quem o comeria. Disse-lhe que seria a prima, porque ele e o pai (quem o encontrou) não gostam e por isso ficava para ela. Diz-me ele: come-o tu. Eu? Porquê? Porque eu não quero que a Leonor morra (nota: ele tem sempre medo que os cogumelos que colhemos para comer sejam venenosos). Perguntei-lhe se então preferia que morresse eu ao que me responde “tu não brincas comigo.” Respondi-lhe dizendo que achava muito bem que não quisesse que a prima morresse mas que escolher-me a mim no seu lugar, no meio dos demais, me entristecia. Propus: ”então come o Mickey”. “Não! O Mickey não!”

A conversa ficou por aqui até termos chegado a nossa casa.

O meu marido, embora me tenha dito que me estava a vitimizar e que não deveria dar relevância ao facto de ter sido selecionada pela pessoa mais importante da minha vida para morrer, acabou por perceber que as palavras o meu filho me magoaram e aconselhou-o a vir esclarecer-se comigo. Só consegui retribuir-lhe o abraço quando pressenti a chegada da torrente de lágrimas.

Just feel like shit.

Sobre as minhas dúvidas quanto a ser uma boa mãe, parece-me que foi bastante esclarecedor.





sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Da guerra sem tréguas

Educar uma criança é uma responsabilidade incrível. Todos os dias me questiono se estou a fazer o que é certo. E todos os mesmos dias me censuro por não ter sabido/conseguido ser aquela mãe idealizada que eu tenho em mente.

Almejo ser aquele tipo de mulher que consegue dar vazão a tudo, que está sempre sorridente e bem-disposta, que nunca grita com os filhos, que é compreensiva, meiga, presente… E não sou nada disso.

De entre todas essas coisas que não sou, o que mais me afeta ainda é ser uma mãe que passa o dia fora, que demora séculos a chegar a casa. Sofro pelo tão pouco tempo que passo com o meu pequeno príncipe.

Sofro por mim. E sofro por ele.

Eu sei que o meu filho gostaria que um dos pais tivesse mais tempo para ele, para não ter que ir para o acolhimento e poder vir para casa ver televisão. Estou bem ciente disso.
Mas não é por essa razão que eu lamento não ter mais tempo.
É porque passar tempo com ele me permitiria aproveitá-lo ao máximo e evitar-me-ia todo o trabalho extra que me exige a sua educação pelo facto de estar tanto tempo exposto a influências nefastas.

A esmagadora maioria dos miúdos de hoje é tão mal-educada – não falo de dizer palavrões (alguns também!), mas da falta de empatia, camaradagem, amizade, cumplicidade, solidariedade – que todos os dias tenho de fazer uma lavagem cerebral ao meu filho para lhe limpar a alma das crueldades/atrocidades que vê, ouve e sente.

Ontem, por exemplo, quando estávamos ambos no chuveiro para lhe dar banho, enche o peito e vira-se para mim, naquela atitude de rambo, de quem é grande e forte. Não me encostou nem pronunciou nada. Mas aquela atitude não é sua e logo perguntei: onde viste isso? Na maison relais? Os “grandes” fazem-te isso? Claro que a resposta foi a que eu já adivinhava. É empurrado, abalroado pelos miúdos mais velhos só porque sim. Disse-me que fez queixa à responsável e que esta ralhou com os malfeitores – veremos se fica por aqui.
Mas uma coisa já ficou: o mau exemplo! Por isso, lá lhe expliquei que só porque somos maiores e mais fortes isso não nos dá o direito de ameaçar ou atacar os mais pequeninos. “Eu sei mamã!” – disse ele. Eu sei que ele sabe, mas não o impediu de replicar a atitude.

Quando tanto do que nos rodeia é mau, é difícil continuar-se bom.

Sinto-me numa guerra sem tréguas. Verdadeiramente.

Mas, parafraseando aquele grande “poeta” que só quem vê novela conhece: “eu dou um boi para não entrar numa guerra, mas dou uma boiada para não sair dela!”. 

A três é que é bom!



quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Da teimosia

Se é verdade que já me chamaram de teimosa, eu tenho muita dificuldade em encaixar a crítica, considerando-me obstinada e persistente.

Embora não me seja fácil abrir mão das ideias que tenho, reconheço em mim abertura bastante para ouvir os outros e retirar das suas opiniões uma visão para limar e melhorar as minhas.

Teimosos, no meu ponto de vista, são os homens da minha família: pai, irmão (senhores de toda a verdade, são capazes de fincar pé num ponto de vista durante horas, estando, no final, ambos errados, mas sem nunca abdicar da certeza de que estão certos) e – deve estar nos genes dos Teles – o meu filho.

O meu pequeno príncipe gosta de brincar com os limites. É incapaz de assimilar uma ordem à primeira, tentando sistematicamente adiar o inevitável.

Quando falo de ordens, são coisas tão simples como: calça-te, veste o casaco, aperta o casaco, põe a mochila direita nas costas, para de chatear o cão… São pequenas coisinhas do dia-a-dia que tenho de repetir até à exaustão. É cansativo. Extremamente cansativo.

Costumo dizer-lhe que me tira anos de vida com as pequenas casmurrices dele. Começamos, muitas vezes, o dia da pior maneira só porque está decidido a contrariar-me e a ser teimoso.

Outras vezes acontece que a sua cabeça dura lhe traz dissabores maiores. Aconteceu esta semana. Por causa da sua obstinação em não querer dar-se a oportunidade de aprender mais alemão (vendo televisão e lendo livros nessa língua), acabou a chorar com fortes razões para isso.

Naturalmente que uma coisa não justifica a outra (a teimosia não se combate com agressividade) e estou certa que toda a situação acabou por ser um aprendizado para os envolvidos.

Ser pai/mãe é, definitivamente, o papel mais difícil de desempenhar. Temos que nos melhorar todos os dias, encher-nos de empatia e paciência, controlar os ímpetos e as emoções e ser para os nossos filhos aquilo que eles mais precisam: um lugar seguro!

A três é que é bom!  



segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Do Dia do Pai

É bastante óbvio que o dia do pai é todos os dias. Desde o momento em que sabe que há uma sementinha a germinar até à eternidade. Um pai perdura muito para além do seu último suspiro, na memória dos filhos e, se tiver tido essa felicidade, na dos netos, bisnetos… Enquanto houver memória da sua passagem na Terra, é imortal.

E não haverá maior glória do que ser lembrado como: era um pai extraordinário!

Conheço dois pais que serão lembrados dessa forma: o meu e aquele que escolhi para o meu filho. São muito diferentes mas, ao mesmo tempo, tão iguais: pais preocupados, pais presentes, pais que dão tudo pelos filhos.

E isto a propósito de ontem: aqui celebra-se o dia do Pai no primeiro domingo de outubro.

O meu pequeno príncipe, que durante a semana inteira me cochichou ao ouvido como era a prenda que andava a fazer para o papá, todo excitado e feliz, chegado o grande dia quase se esquecia. Distraído com a perspetiva do curso de natação e com os olhos postos na televisão (para devorar 5 minutos do maldito vicio antes de sair), foi preciso lembrá-lo.

Caído em si sobre a falha que cometera, ficou triste e desolado, pediu desculpas ao papa e, além dos presentes preparados na escola, congratulou-o com uma canção que ele inventou no próprio momento – de palavras doces e melodia melancólica, que quase o fez chorar. Sim, esta é uma característica do meu pequenote: chorar com as letras das músicas que inventa. Alma de artista sentimental.

Finalizaram num abraço apertado!

Gosto tanto de os ver agarradinhos e cúmplices. Ligados por um amor incomensurável.

A três é que é bom!



quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Da presunção

Eu gosto de escrever.

Nem sempre aprecio o que escrevo. Não tanto pelo conteúdo (porque não conto mentiras), mas pela forma, pela abordagem, pelo excesso de detalhes ou pela falta deles. Não obstante escrevo.

E escrever desanuvia-me.

Portanto, a ideia de criar um blog sobre a vida a três nasceu não apenas porque tenho uma memória seletiva (e no blog fica gravado para a posteridade) mas também pelo prazer pessoal de narrar histórias.

Está bem claro que não tenho um ranking de visualizações e que não criei esta página para ganhar dinheiro – não há nem haverá publicidade associada!  

Não obstante, gostava de ter mais retornos. E ontem queixava-me ao meu marido precisamente disso – disse-lhe que gostaria de saber se há quem me leia e o que acham (tata, eu sei que tu lês!).

Neste ponto, respondeu-me com a altivez e a suma convicção de que tal deveria ser-me suficiente: eu leio!
Uau! A sério? E quê? Devo ser-te grata e reconhecida porque tu lês um blog que fala sobre a nossa família? Mau seria que não lesses, digo eu com os nervos.

Achei extremamente presunçoso e arrogante.

É seu hábito achar que desvalorizo a sua opinião só porque quero saber a dos demais. Mas está enganado. Não desvalorizo. Mas relativizo. Como parte interessada e conhecedora dos factos, não tem uma opinião isenta.

É perfeitamente legítimo querer ocupar os lugares de topo na vida dos que nos são queridos, mas assumir que se é suficiente, é excessivo. Menos, menos.

Como prometido, esta entrada é mesmo só para ti, marido querido.

A propósito: agora percebo a quem sai o meu pequeno príncipe quando se acha o Cristiano Ronaldo lá da escola. Deve ter passado nos genes.

A três é que é bom!