segunda-feira, 25 de julho de 2022

Da cabeça dura

Como mãe de filho único, não tenho experiência nem termo de comparação para saber distinguir o trigo do joio. Quero com isto dizer que, sem desvalorizar as capacidades e inteligência do meu pequenote, não sei até que ponto se destaca ou se assemelha aos demais.

Quando ele era mais pequenino, eu, além de partilhar com as mães à minha volta, procurava muita informação em blogs e sites de parentalidade para tentar descortinar se o pequerrucho estava a desenvolver-se conforme o esperado. As consultas à pediatra confirmavam que estava a crescer e as leituras e conversas com outras mães e com as educadoras da creche tranquilizavam-me quanto ao resto.

Cada etapa do seu crescimento correspondeu perfeitamente às expectativas, sendo um bebé e uma criança muito perspicaz e intuitivo, de raciocínio e compreensão rápidos.  

Hoje, com 9 anos de idade, já não há “manuais” que me possam guiar nesta minha árdua tarefa que é ser mamã. Restam-me as conversas/troca de experiências com outras mães e, em certa medida, a perceção dos profissionais à sua volta – que, no caso concreto, se resume ao professor. Os educadores e afins da estrutura de acolhimento são tão incompetentes que me dispenso de lhes pedir opinião.

Na reunião de fim de ano escolar debatemos o facto de o meu filho ser muito casmurro e procurar incessantemente levar a sua adiante – mesmo sabendo que não lhe adianta de nada ser teimoso. O professor explicava-me que nesta idade os miúdos estão a formar a sua personalidade e que o fazem, muitas vezes, pela via da provocação. Ou seja: é uma característica mais ou menos comum e transversal à sua geração.

Pois não sei. Imagino que tenha razão. E que estas guerras (a meu ver desnecessárias) que travamos quase diariamente sejam o caminho que o meu príncipe terá de trilhar para chegar à etapa seguinte.

O que sei é que não vou desistir de lhe incutir os bons valores e zelar para que se torne um ser humano de coração gigante e alma limpa.

Nem tão pouco vou desistir de coisas mais simples como seja obriga-lo a palmilhar o caminho até ao Fond-de-Gras para ver uma exposição de carros antigos, que afinal lhe agradou e lhe fez melhor ao cérebro do que ficar sentado à frente da televisão.

Nota final: ontem, enquanto regressávamos a casa, o meu menino perguntou-me se ia escrever no blog sobre os carros. Disse-lhe que não, que talvez fosse escrever sobre ele ser um cabeça dura. Não gostou da ideia e ameaçou apagar o meu blog. Se isto não é irreverência e muita prepotência, não sei o que seja. Esta entrada é para ti meu amor 😜

A três é que é bom!



quinta-feira, 14 de julho de 2022

Do bandolim


Tive de recorrer ao suporte de papel para me localizar no tempo e, com rabiscos acima e abaixo, conseguir descortinar há quantos anos é que o meu pequeno príncipe anda a aprender música. Bem feitas as contas, constatei que já acumulou uns anitos de experiência musical.

Tudo começou em 2018, com o “éveil musical” (despertar para a música)  tendo, no ano letivo seguinte, complementado a formação musical com a aprendizagem de um instrumento.
Tal como vos contei em janeiro de 2020, o destino colocou-lhe o bandolim na frente. Felizmente, diria eu. Pois não vejo que outra pessoa além da professora de bandolim teria paciência para ensinar um mandrião desta estirpe. Diz de boca cheia que gosta de tocar bandolim, mas quando lhe dizemos para treinar, nunca é o momento certo. Posto isto, há 3 anos que toca 30 minutos por semana, fora férias escolares em que não pratica nada.

Partindo eu do princípio que nada chega sem esforço (o qual o meu pequerrucho não faz), não foi sem espanto que no passado sábado o ouvi tocar tão afinadinho e quase sem falhas, na audição pública organizada pela docente.

De regresso à sala de 2020 – após um interregno de vida por causa da pandemia – pude constatar com os meus próprios olhos (e ouvidos) que o meu pequenote fez uma progressão enorme.

Acompanhado ao piano pela professora, encheu a sala de musicalidade.
A primeira música, com acordes harmoniosos e a puxar para a melancolia, seria a banda sonora perfeita para uma despedida, com laivos de esperança no final. Linda. (Deixo-vos um excerto infra - que sistema não me permite carregar o video completo, que fará dois).
A segunda música transportou-me, não sei porquê, para a Irlanda e para os seus acordes festivos. É alegre e de celebração. Muito bonita também.

Foi uma atuação conseguida, que me encheu de orgulho.

É claro, como não poderia deixar de ser, que lhe dei os parabéns pela magnífica prestação, mas frisando que, se calhar com um pouquinho de treino extra, as pequeninas falhas seriam dissipadas.

Estes conselhos entram-lhe por um ouvido e saem pelo outro.

A música, pelo contrário, entra-lhe pelos ouvidos, percorre-lhe o corpo todo e alojasse-lhe na alma. Genes. Está nos genes 😅😁😊

A três é que é bom!


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Do alto dos seus 9 anos

Comecemos pela parte factual: o meu pequeno príncipe já tem 9 anos. NOVE!

Uns dias antes da data do seu aniversário tive uma reflexão que além de aterradora, me deixou à beira da depressão: 9+9=18. Ou seja, outro tanto de vida do meu filho (que a mim me parece que nasceu ontem) e atingirá a maioridade.

Se isto não é avassalador, não sei o que seja. Esta consciência de que está cada vez mais perto de ficar longe, esta projeção num futuro próximo em que o meu rebento aparece mais alto do que eu (e já falta tão pouco!), de voz grossa e barba é-me insuportável.

Que saudades que eu tenho do meu bebé!

É claro que na caixinha das recordações desses primeiros tempos, só guardei a lembrança do aconchego gostoso, do bom que é ter um bebezinho nos braços e sentir o seu calor e o seu cheiro, o olhar penetrante e o seu sorriso doce e ternurento. As cólicas, as mastites, o vomitado, as horas ao colinho antes de adormecer… nada disso me lembro.

A realidade atual é menos idílica e mais pungente.

Nestes últimos tempos, partilho a vida com o que qualificaria como uma espécie de pré-adolescente que, além de teimoso como uma burra, demonstra uma enorme incapacidade de discernir o que é bom para si.

As ideias de jerico afluem com vivacidade, os interesses são determinados pela coletividade (gosta daquilo que os outros gostam, independentemente do que seja) e vive obcecado pelo que está para vir.
Neste quadro, é fácil colidirmos e chocarmos, tal é o enfoque do meu filho em caminhos tortuosos e perigosos.
Bem sei que tenho de o deixar cair e bater com a cabeça – para que retire o ensinamento dos próprios erros e para que possa aprender a levantar-se. Mas, até onde posso e devo tolerar que vá? Onde está o limite? Quando é que na minha tentativa de o proteger deixo de vestir a pele de mãe galinha, e passo para a pele de mãe manipuladora e restritiva?
Não é evidente.
E coloco-me muitas vezes em causa, no desejo de ser para o meu menino um pilar firme onde se apoiar toda a vida e não um cadeado do qual deseja libertar-se.

Comunicação, compreensão, tolerância, empatia e muito Amor serão, certamente, as chaves para levar este barco a bom porto. O vento nem sempre é favorável, mas ajustando as velas, havemos de chegar. Muss! 

Nunca ninguém disse que seria fácil, apenas que valeria a pena (autor desconhecido).

A três é que é bom!