quinta-feira, 21 de abril de 2016

Memória curta

A entrada de hoje no blog, não estando particularmente relacionada com a nossa vida a três, está totalmente associada à minha condição de mãe.

Hoje de manhã tive uma consulta no oftalmologista com o meu pequeno príncipe - tem uma visão ótima e pude constatar que sabe falar francês muito melhor do que aquilo que eu imaginava - e foi na sala de espera desse gabinete médico que assisti a uma lamentável e inqualificável falta de educação.

A sala estava cheia de pessoas de idade (acima dos 70 anos). Logo depois de nós chegou uma mãe com duas meninas - de 5 anos e 18 meses, não mais. A mais pequenita chorava que se matava - não daqueles choros estridentes, mas choro constante. A mãe, como qualquer outra no seu lugar, tentou acalmar o rebento mas sem sucesso. Ora ao colo, ora no chão, a miúda não parava de chorar. 

O casal de idosos à minha frente olhava e, descaradamente, reprovava. Os outros, ligeiramente mais discretos, também não consentiam que tal cenário se estivesse a reproduzir. Uma das secretárias do gabinete, que entretanto tinha vindo fechar a porta da sala de espera, entrou, chamou um paciente e abanou a cabeça em reprovação.
Passados uns 5 minutos - a miudinha continuava a chorar - voltou para levar consigo o casal de velhos incomodadíssimos e tem o seguinte desplante:
- "Você não a consegue fazer parar de chorar? Está a incomodar toda a gente."
A pobre da mãe responde que tentou, mas que não resultou. Vem a tirada do século:
-"Pode levá-la lá para fora, quando for a sua vez eu chamo-a."
E a senhora saiu, ante a aprovação da maioria dos pacientes de terceira idade naquela sala.

Ora: eu teria saído definitivamente e mandava-lhe a cartinha de reclamação pelo correio. 
Só quem nunca teve filhos, e ainda assim... 
Quantos de nós não passaram já por situações destas? Nenhum pai fica impávido e sereno a ver o filho chorar. Já é suficientemente constrangedor. Não precisamos de patetas destes (para não lhes chamar outra coisa) para nos dar a entender que não somos capazes de educar os nossos filhos. Têm é memória curta. Porque, tenho a certezinha, também passaram por situações semelhantes. Acontece com todos. 

Só me arrependo duma coisa: quando aquela parvalhona da secretária disse que a menina estava a incomodar toda a gente de não me ter manifestado e vincado que, a mim, não me estava a incomodar.

Haja paciência. 

A três é que é bom!

                                 O meu príncipe a apanhar flores para a mamã :)

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O favorito

Durante anos fui a segunda favorita. 
O meu irmão era o menino querido do papá, e, ainda que o meu pai o negasse, todos sabíamos que assim era. 
Por ser rapaz, dizem uns, por ser o mais novo, dirão outros... Por afinidade, talvez. Pouco importa. Não me impediu de crescer equilibrada, nem tão pouco de saber - na minha condição de segunda - que o meu pai gostava de mim.

Hoje a pirâmide das predileções mudou. 
O sexo continua a determinar as preferências. E no topo da tabela está o meu rebento. 
O meu pai é louco pelo neto. E o neto é doido pelo avô. É um amor partilhado e desmesurado. Juntos comportam-se como duas crianças. O avô acede a todos os caprichos. O príncipe não se inibe e usa e abusa dessa paciência e complacência.
Mas é para isso que os avós existem, certo?

Ontem foi dia de aniversário do avô. Parabéns pai. E obrigada por gostares tanto do meu filho.

A três é que é bom! 


sábado, 9 de abril de 2016

Sensação estranha

Já em tempos tinhamos deixado o pequeno príncipe em casa dos avós e saímos para jantar com amigos. Dessa vez voltamos para casa dos meus pais, onde pernoitamos no sofá, enquanto o rebento, que adormecera com o avô, continuou na cama deste, tendo acordado contente da vida e sem querer saber dos progenitores. 

No passado sábado, decidimos esticar a experiência e, portanto, depois do jantareco a dois, fomos tomar cafézinho e seguimos caminho para nossa casa, deixando o nosso filhote nos avós.

Enquanto fora, não caímos na tentação de só falar do menino, de como estaria, se iria correr tudo bem... bla, bla, bla. Conseguimos resistir e aproveitar um momento a dois, que não acontecia há anos. Literalmente há anos! Só ligamos uma vez, para saber se já dormia.

Contudo, chegados a nossa casa, abateu-se sobre mim um vazio tão grande e uma saudade tão imensa - ao dar-me conta do silêncio, ver os brinquedos todos arrumadinhos, a cama dele vazia... -, que, não fosse por saber que iria magoar os meus pais (que ficariam a pensar que não confiava neles) teria abalado para o sofá da casa destes.

Sei que tanto o neto como os avós gostaram muito desta noite especial, mas eu dormi pior do que em todas as noites em que o príncipe acorda a chamar por mim, com um aperto no peito e uma má consciência na cabeça. 
Não, não digo que não voltará a acontecer. Sei que sim. Mas garanto que está longe de ser libertador. Pelo contrário.

Confirma-se: A três é que é bom!