quinta-feira, 27 de agosto de 2020

La petite histoire

Esta poderia ser uma entrada com um título diferente, tipo: "as primeiras análises", "a borboleta devoradora de sangue", "o menino corajoso"... mas não. Ficamo-nos pela "pequena história" - porque, como se verá, foi um episódio que merece ser contado. 

Comecemos pelo princípio: 
O pequeno príncipe, como a maioria das crianças e muitos adultos, é dado a tiques. E um dos recentes é tossir. Uma tosse seca e sem critério. Essencialmente a ver desenhos animados ou quando brinca no jardim.
O meu pai, paranóico que está por causa da pandemia, não descansou enquanto não levei o neto à pediatra. Prognóstico: eventuais alergias - porque no demais nada havia a declarar e porque, além do pólen e dos ácaros que afetam muitas almas, temos um cão e um gato (este temporariamente) em casa, o que poderia justificar aquela tossiqueira. 
Lá viemos nós com duas folhas: análises hematológicas e despistagem de alergias. As primeiras da vida do meu menino. 

Expliquei-lhe o procedimento, reforçando que não custa mais do que uma picada de insecto, e lá fomos os dois - eu com mais medo do que ele - ao laboratório.

A técnica que nos recebeu, percebendo que se tratava de uma primeira experiência, foi muito atenciosa e simpática, tendo-lhe mostrado a agulha e a suposta borboleta, deixando-o o mais à vontade possível. Pediu reforço de uma colega (deve ter percebido que eu poderia ser a primeira a quebrar), para garantir que não mexeria o braço durante a intervenção. E procedeu à recolha do sangue. O meu pequerrucho gemeu com a entrada da agulha mas não mais que isso. Depois quis olhar e assustou-se um pouquinho. Lembrei-o que poderia olhar para o outro lado - o que eu sempre faço - e relaxou.
Já depois da agulha retirada, a técnica pergunta-lhe: estás bem? E vejo-o, por uma fração de segundo, com o olhar fixo e vazio. "Il est parti" diz-me a senhora. Mas já ali estava de volta. Deitaram-no para trás um pouquinho e bebeu água. Estava tudo bem. Quase nem se notou. Mas sim, desmaiou. Coitadinho! O stress e o calor daquele cubículo, acrescido da máscara, foram demais para ele. Mas portou-se como um grande!  Melhor ainda, porque conheço alguns que desmaiam à séria :)

Os resultados seriam enviados à pediatra, com cópia para casa. A carta tardou a chegar (normalmente chegam em dois dias - levou mais de uma semana), e quando a abri pareceu-me incompleta. Reportava-se à análise hematológica, apenas. Aguardei uns dias pelo resultado das alergias. Nada. Contactei o secretariado da pediatra - não fosse ter falhado o envio da cópia ao paciente. A secretária informou não ter recebido essa parte dos resultados, dizendo que interrogaria o laboratório e que pediatra me contactaria. No dia seguinte recebo a chamada da médica que, confirmando que a análise das alergias não fora efetuada, me propõe a administração de aerossóis à criança, a título preventivo.

Oi? Quê? Não sei quem é mais incompetente nesta história: o laboratório que não procede em conformidade com os pedidos ou a pediatra que quer medicar paciente sem ter confirmação de alergias. Até porque a tosse é tão esporádica que mesmo um quadro alérgico comprovado não justificaria a tomada de medicamentos... Não, deixe lá isso, disse eu. Aguardemos evolução.

Ainda não acabou.

Portanto, a pediatra não me propôs refazer a análise. E a mim também não me parece necessário submeter o meu filhote a nova recolha, em tão pouco tempo, por uma tosse que nem sequer se tem manifestado. Ainda assim fiquei curiosa de saber se tem reação alérgica ao cão, pelo que contactei o laboratório e expus falha na elaboração da análise. Diz-me a fulana: vamos pegar nos dados que temos e fazer a análise em falta. Receberá os resultados em casa. Ok, porreiro, pensei eu. Não imaginava possível "aproveitar" o sangue retirado em 3 de agosto para, mais de 3 semanas depois, analisar a componente alérgica. Mas está bem. De toda a maneira, o que é que eu percebo disso!
Qual não foi o meu espanto quando recebo nova correspondência, repetindo primeiros resultados e com uma folha adicional dizendo que análise de alergias foi anulada por fora de prazo. 

Não vale a pena. A existir alguma componente alérgica é tão ténue que não lhe muda a vida.
Fica a primeira experiência de recolha de sangue e "la petite histoire".

A três é que é bom!