terça-feira, 31 de maio de 2022

Das férias a dois

A ideia inicial, de tirar férias aquando ao meu pequerrucho no mês de maio, era que pudéssemos aproveitar uns dias em família, algures. O papa viu-se negado o pedido de férias pelo que o plano original, de partirmos os 3 (ou os 4) foi por água abaixo.

A verdade é que a perspetiva de passar toda uma semana por casa com o rebento não correspondia minimamente às minhas expectativas de repouso e proveito. Tirar dias para ficar em casa não são férias. São, de certa maneira, dias perdidos.

Assim, e tendo em conta que nunca tinha viajado sozinha com o meu pequeno príncipe, começamos a explorar uma série de alternativas, por forma a poder partir com algum suporte. Excluídas as opções que mais nos teriam agradado, acabamos por nos associar ao grupo de uma pessoa que nos é muito querida e partimos rumo à Calábria.

O hotel era simpático mas bastante isolado. Como a época balnear só abre em meados de junho, ainda não havia animação e nos arredores estava tudo fechado.
Valeu-nos o facto de o grupo contar com 8 menores, dos 6 aos 17 anos, e de todos se entenderem relativamente bem. Brincaram na piscina, no mar, no areal, nos vastos jardins relvados. Não houve escaramuças nem amuos. Conseguiram conciliar interesses e aproveitar a presença uns dos outros para tornar as férias mais animadas.

O meu filho passou praticamente os dias mergulhado na água, ora doce, ora salgada. Saía obrigado, quando as horas das refeições o impunham. E contava os minutos da digestão, para poder voltar a saltar para a piscina ou para entrar no mar e ver os peixes nas águas límpidas em vários tons de azul.  

Com muita dificuldade o persuadi a passear um pouco à beira mar (ficamos desiludidos com a quantidade de lixo na praia) e a acompanhar-me numa caminhada de 25 minutos, que nos levou à paisagem mais bonita da semana. Chegados ao cimo da escadaria concordou que valeu a pena. Concorda sempre. Mas a luta para o convencer a seguir-nos é por vezes desgastante.

Se tivesse que apostar no ponto alto da nossa estadia em Itália, diria que foi o passeio de barco de Tropea a Capo Vaticano. Não para mim, que enjoei e quase virava o barco. Para o meu pequenote.
Desde que chegamos até ao dia da excursão andou a moer-me o juízo a dizer que queria mergulhar em alto mar – porque, de acordo com a descrição da atividade, haveria essa possibilidade. Disse-lhe que só poderia lançar-se à água se tivesse colete salva-vidas. Pois bem… havia coletes. E o prometido é devido. Não sei qual de nós estava mais nervoso, mas sei que ele se encheu de coragem e se atirou para as águas fundas por duas vezes. Eu fiquei com o coração numa mão e o telemóvel na outra – para registar o momento – a perguntar-me se tinha perdido a cabeça ou se estava apenas a permitir ao meu menino criar memórias. Não excluo a primeira possibilidade, mas confirmo em absoluto a segunda. O orgulho de ter superado o medo e a satisfação de ter nadado em águas profundas eram palpáveis.

Foi uma semana intensa.
Intensa em emoções.
Intensa em sensações.
Intensa em tensões.

O balanço final destas férias mãe e filho é definitivamente positivo e, a fazer, faria de novo. Mas tive uma dificuldade maluca em relaxar – sempre de olho no rebento, a seguir-lhe os passos por todo o lado e a senti-lo ao meu lado na cama – pelo que regressei a casa com umas saudades bárbaras do meu marido e da segurança que ele me dá.

A dois foi bom, mas a três é melhor!



quinta-feira, 19 de maio de 2022

A menina que desenhava corações

O meu pequeno príncipe pediu-nos se podia frequentar o curso de língua e cultura portuguesa (ensino paralelo), do qual teve conhecimento nos derradeiros dias da segunda classe.

Explicamos-lhe que, tal como as demais atividades extracurriculares, quando se começa é para seguir, no mínimo, até ao final do ano letivo. Assentiu que sim, garantiu que gostaria muito e foi assim que em setembro iniciou as aulas da língua materna.

O interesse pela formação é mitigado. Há temas que lhe interessam muito – a Revolução dos Cravos – e colegas que lhe interessam ainda mais: uma tal de Ana.
Assim, e apesar da motivação ter sido mais de ordem sentimental do que intelectual, disse-nos que desejava renovar a inscrição para o próximo ano, o que já está feito.

Pois bem, foi precisamente por organização da Coordenação do Ensino e no âmbito das celebrações do dia mundial da língua portuguesa que decorreu a apresentação do livro cujo nome é o assunto desta entrada: “A menina que desenhava corações”, escrito e encenado por Sónia Sousa.

Pela sua autora, não poderia deixar de vos falar disto.

O livro é todo uma lição, mas a apresentação da Sónia Sousa dá-lhe um alcance que só quem assiste pode testemunhar. Ri e chorei. Chorei e ri. Eu, e a maioria dos pais que ali acompanharam os rebentos e que ficaram para a encenação. Gostei imenso. Obrigada Sónia Sousa. 

O meu filho, ladeado da dita Ana – fervorosa entusiasta e participativa – e do colega de turma – que parece viver a vida como um frete – teve de ser alertado que se não se permitisse gostar, teríamos de abandonar a sala antecipadamente.

A chamada de atenção teve os seus frutos, mas não deixou de nublar um pouquinho o dia. Lamento tanto quando se deixa levar pelas emoções dos outros, privando-se das que lhe são próprias e genuínas.

No regresso a casa tentou-me convencer que no início não estava a achar muita graça às piadas da escritora – que trocava corações por croissants e apelidava toda a plateia de Serafim ou Serafina.
Pode enganar muita gente. Mas a mim não me atira areia para os olhos.
Pela centésima vez expliquei-lhe que ele é livre de gostar do que quiser e que a opinião dos outros vale zero, no que respeita os seus gostos pessoais. Inclusive a minha. Eu não decido o que ele pode ou não gostar. Mas, ao contrário desses outros, eu conheço-o. E sei quando está a ser outro Matias que não o meu. O meu Matias é expansivo e alegre. Participativo e entusiasta. Emotivo e vivo. É maravilhoso. E eu amo-o à exaustão.

A três é que é bom!



terça-feira, 10 de maio de 2022

Dos dias felizes

Dizer que vivemos uma era de paz e amor é tudo menos verdade. Os tempos são estranhos, como o são a maioria das pessoas, conhecidas ou anónimas, com quem, de uma forma ou de outra, nos cruzamos.

Os discursos de ódio são moeda corrente. As notícias de tragédia sucedem-se. E o mundo parece virado do avesso.

No meio desta bestialidade que é o dia-a-dia, conseguir fazer abstração e focarmo-nos no essencial, não é evidente. Mas foi precisamente o que fizemos.

No domingo passado agarramos em nós e no nosso Mickey e fomos ao Parque Maravilhoso. O nome é excessivo para as instalações daquela pequena reserva, mas é perfeito para descrever o dia que passámos: foi verdadeiramente maravilhoso.

O nosso cão estava excitadíssimo com as novidades daquele espaço, onde nunca tinha ido: tantas pessoas, tantos amiguinhos de todos os formatos com quem confraternizar… Cheirou, saltou, puxou e até latiu. Apesar disso, consideramos que se portou bem e que poderá voltar.

O nosso pequeno príncipe estava ao rubro. Solto. Excitado. Alegre. Feliz.
É certo que tem de refrear a sua sede louca do que vem a seguir e aprender a viver o agora. Mas a vida é um caminho. E com as palavras certas no momento exato chega lá.

Sou tão feliz por o ter na minha vida.
A ele e ao pai dele. Que neste momento está de queixo caído, a pensar que devo ter batido com a cabeça.
Je vous aime.

A três é que é bom!


                                               Fotos com créditos do papa. Finalmente descobriu como tirar fotos giras.