quinta-feira, 19 de maio de 2022

A menina que desenhava corações

O meu pequeno príncipe pediu-nos se podia frequentar o curso de língua e cultura portuguesa (ensino paralelo), do qual teve conhecimento nos derradeiros dias da segunda classe.

Explicamos-lhe que, tal como as demais atividades extracurriculares, quando se começa é para seguir, no mínimo, até ao final do ano letivo. Assentiu que sim, garantiu que gostaria muito e foi assim que em setembro iniciou as aulas da língua materna.

O interesse pela formação é mitigado. Há temas que lhe interessam muito – a Revolução dos Cravos – e colegas que lhe interessam ainda mais: uma tal de Ana.
Assim, e apesar da motivação ter sido mais de ordem sentimental do que intelectual, disse-nos que desejava renovar a inscrição para o próximo ano, o que já está feito.

Pois bem, foi precisamente por organização da Coordenação do Ensino e no âmbito das celebrações do dia mundial da língua portuguesa que decorreu a apresentação do livro cujo nome é o assunto desta entrada: “A menina que desenhava corações”, escrito e encenado por Sónia Sousa.

Pela sua autora, não poderia deixar de vos falar disto.

O livro é todo uma lição, mas a apresentação da Sónia Sousa dá-lhe um alcance que só quem assiste pode testemunhar. Ri e chorei. Chorei e ri. Eu, e a maioria dos pais que ali acompanharam os rebentos e que ficaram para a encenação. Gostei imenso. Obrigada Sónia Sousa. 

O meu filho, ladeado da dita Ana – fervorosa entusiasta e participativa – e do colega de turma – que parece viver a vida como um frete – teve de ser alertado que se não se permitisse gostar, teríamos de abandonar a sala antecipadamente.

A chamada de atenção teve os seus frutos, mas não deixou de nublar um pouquinho o dia. Lamento tanto quando se deixa levar pelas emoções dos outros, privando-se das que lhe são próprias e genuínas.

No regresso a casa tentou-me convencer que no início não estava a achar muita graça às piadas da escritora – que trocava corações por croissants e apelidava toda a plateia de Serafim ou Serafina.
Pode enganar muita gente. Mas a mim não me atira areia para os olhos.
Pela centésima vez expliquei-lhe que ele é livre de gostar do que quiser e que a opinião dos outros vale zero, no que respeita os seus gostos pessoais. Inclusive a minha. Eu não decido o que ele pode ou não gostar. Mas, ao contrário desses outros, eu conheço-o. E sei quando está a ser outro Matias que não o meu. O meu Matias é expansivo e alegre. Participativo e entusiasta. Emotivo e vivo. É maravilhoso. E eu amo-o à exaustão.

A três é que é bom!



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