quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Da desdramatização

Quantas vezes nos queixamos de que a nossa vida é monótona e repetitiva. Todos os dias são iguais. Vemos as mesmas pessoas, passamos pelos mesmos sítios, fazemos as mesmas coisas.

E de repente alguma coisa de inesperado acontece e perturba essa tranquilidade do dia-a-dia sem história.

O proveito que tirámos dos novos acontecimentos depende muito do nosso estado de espírito e também da perspetiva pela qual nos é apresentada essa realidade.

Isto vem a propósito da passada sexta-feira.

O meu pequeno príncipe assistiu a um atropelamento.
Um jovem que atravessava a passadeira com o skate foi colhido por um carro, tendo sido propulsado no ar, embatendo no vidro, que se estilhaçou. Não deve ter sido um espetáculo bonito de ver (foi durante as aulas de canto, por isso só conheço a história na terceira pessoa) e lamento que o meu filho tenha vivenciado tal acontecimento.

Mas aquela que podia tornar-se numa experiência traumática – repetiu inúmeras vezes o que viu e senti que aquilo não lhe ia sair da cabeça facilmente –  foi aproveitada para uma chamada de atenção sobre os perigos da estrada.

Focamos constantemente a nossa abordagem no facto do rapaz ter sobrevivido – com dores, é certo! – realçando a importância de fazer muita atenção quando andamos na estrada, seja a pé, de bicicleta, trotinete ou skate.

É claro que o que viu lhe ficou gravado na alma, mas creio que a “desvalorização” do sucedido lhe permitiu que se centrasse no essencial: a vida. O menino sobreviveu.

A três é que é bom!



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