Embora o meu conceito de família seja relativamente alargado – tenho família de coração que amo e me faz muito mais falta do que muita família de sangue – ontem foi dia de estar com A Família! Não todos (porque meus pais e minha tia estão longe), mas os que vivem perto de nós: o meu irmão, a esposa e os meus queridos e adorados sobrinhos/afilhados.
Se é verdade que o meu filho tem outros primos, não é menos
verdade que só conhece a Leonor e o João. E com a prima tem uma relação de amor
inigualável a qualquer outra. E já verão mais à frente o seu alcance.
O dia esteve soalheiro e seria um desperdício passa-lo entre
quatro paredes. Por isso saímos todos de casa, rumo à floresta, com a importante
missão de encontrar santieiros – uma espécie comestível de cogumelos, característica
pelo chapéu e o anel.
Encontramos muitas variedades de cogumelos, que, embora
possam ser comestíveis, tememos que o fossem apenas uma vez… e não arriscámos.
Percorremos alguns largos metros até que o meu marido encontrou aquele que se
viria a revelar único – um santieiro (dois em estado de decomposição não
contam). Grande e ainda fechado, apresentava já algumas marcas de guerra. Mas
nunca se desperdiça comida.
É claro que a tentativa de o fazer cheirar ao Mickey e
mandá-lo encontrar mais só serviu para a gargalhada geral.
O resto do trajeto foi infrutífero na colheita de fungos mas
prazeroso nos momentos partilhados. Tenho várias fotos do meu pequenote e da
minha afilhada que mostram o quanto se gostam e o bom que seria se passassem mais
tempo juntos.
Já perto dos carros e atendendo a que um santieiro não
poderia satisfazer tanta gente, o meu filho perguntou quem o comeria. Disse-lhe
que seria a prima, porque ele e o pai (quem o encontrou) não gostam e por isso
ficava para ela. Diz-me ele: come-o tu. Eu? Porquê? Porque eu não quero que a
Leonor morra (nota: ele tem sempre medo que os cogumelos que colhemos para
comer sejam venenosos). Perguntei-lhe se então preferia que morresse eu ao que
me responde “tu não brincas comigo.” Respondi-lhe dizendo que achava muito bem
que não quisesse que a prima morresse mas que escolher-me a mim no seu lugar,
no meio dos demais, me entristecia. Propus: ”então come o Mickey”. “Não! O
Mickey não!”
A conversa ficou por aqui até termos chegado a nossa casa.
O meu marido, embora me tenha dito que me estava a vitimizar
e que não deveria dar relevância ao facto de ter sido selecionada pela pessoa
mais importante da minha vida para morrer, acabou por perceber que as palavras
o meu filho me magoaram e aconselhou-o a vir esclarecer-se comigo. Só consegui
retribuir-lhe o abraço quando pressenti a chegada da torrente de lágrimas.
Just feel like shit.
Sobre as minhas dúvidas quanto a ser uma boa mãe, parece-me
que foi bastante esclarecedor.
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