segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Da feliz contemplada

Embora o meu conceito de família seja relativamente alargado – tenho família de coração que amo e me faz muito mais falta do que muita família de sangue – ontem foi dia de estar com A Família! Não todos (porque meus pais e minha tia estão longe), mas os que vivem perto de nós: o meu irmão, a esposa e os meus queridos e adorados sobrinhos/afilhados.

Se é verdade que o meu filho tem outros primos, não é menos verdade que só conhece a Leonor e o João. E com a prima tem uma relação de amor inigualável a qualquer outra. E já verão mais à frente o seu alcance.

O dia esteve soalheiro e seria um desperdício passa-lo entre quatro paredes. Por isso saímos todos de casa, rumo à floresta, com a importante missão de encontrar santieiros – uma espécie comestível de cogumelos, característica pelo chapéu e o anel.

Encontramos muitas variedades de cogumelos, que, embora possam ser comestíveis, tememos que o fossem apenas uma vez… e não arriscámos. Percorremos alguns largos metros até que o meu marido encontrou aquele que se viria a revelar único – um santieiro (dois em estado de decomposição não contam). Grande e ainda fechado, apresentava já algumas marcas de guerra. Mas nunca se desperdiça comida.

É claro que a tentativa de o fazer cheirar ao Mickey e mandá-lo encontrar mais só serviu para a gargalhada geral.

O resto do trajeto foi infrutífero na colheita de fungos mas prazeroso nos momentos partilhados. Tenho várias fotos do meu pequenote e da minha afilhada que mostram o quanto se gostam e o bom que seria se passassem mais tempo juntos.

Já perto dos carros e atendendo a que um santieiro não poderia satisfazer tanta gente, o meu filho perguntou quem o comeria. Disse-lhe que seria a prima, porque ele e o pai (quem o encontrou) não gostam e por isso ficava para ela. Diz-me ele: come-o tu. Eu? Porquê? Porque eu não quero que a Leonor morra (nota: ele tem sempre medo que os cogumelos que colhemos para comer sejam venenosos). Perguntei-lhe se então preferia que morresse eu ao que me responde “tu não brincas comigo.” Respondi-lhe dizendo que achava muito bem que não quisesse que a prima morresse mas que escolher-me a mim no seu lugar, no meio dos demais, me entristecia. Propus: ”então come o Mickey”. “Não! O Mickey não!”

A conversa ficou por aqui até termos chegado a nossa casa.

O meu marido, embora me tenha dito que me estava a vitimizar e que não deveria dar relevância ao facto de ter sido selecionada pela pessoa mais importante da minha vida para morrer, acabou por perceber que as palavras o meu filho me magoaram e aconselhou-o a vir esclarecer-se comigo. Só consegui retribuir-lhe o abraço quando pressenti a chegada da torrente de lágrimas.

Just feel like shit.

Sobre as minhas dúvidas quanto a ser uma boa mãe, parece-me que foi bastante esclarecedor.





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