sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Da guerra sem tréguas

Educar uma criança é uma responsabilidade incrível. Todos os dias me questiono se estou a fazer o que é certo. E todos os mesmos dias me censuro por não ter sabido/conseguido ser aquela mãe idealizada que eu tenho em mente.

Almejo ser aquele tipo de mulher que consegue dar vazão a tudo, que está sempre sorridente e bem-disposta, que nunca grita com os filhos, que é compreensiva, meiga, presente… E não sou nada disso.

De entre todas essas coisas que não sou, o que mais me afeta ainda é ser uma mãe que passa o dia fora, que demora séculos a chegar a casa. Sofro pelo tão pouco tempo que passo com o meu pequeno príncipe.

Sofro por mim. E sofro por ele.

Eu sei que o meu filho gostaria que um dos pais tivesse mais tempo para ele, para não ter que ir para o acolhimento e poder vir para casa ver televisão. Estou bem ciente disso.
Mas não é por essa razão que eu lamento não ter mais tempo.
É porque passar tempo com ele me permitiria aproveitá-lo ao máximo e evitar-me-ia todo o trabalho extra que me exige a sua educação pelo facto de estar tanto tempo exposto a influências nefastas.

A esmagadora maioria dos miúdos de hoje é tão mal-educada – não falo de dizer palavrões (alguns também!), mas da falta de empatia, camaradagem, amizade, cumplicidade, solidariedade – que todos os dias tenho de fazer uma lavagem cerebral ao meu filho para lhe limpar a alma das crueldades/atrocidades que vê, ouve e sente.

Ontem, por exemplo, quando estávamos ambos no chuveiro para lhe dar banho, enche o peito e vira-se para mim, naquela atitude de rambo, de quem é grande e forte. Não me encostou nem pronunciou nada. Mas aquela atitude não é sua e logo perguntei: onde viste isso? Na maison relais? Os “grandes” fazem-te isso? Claro que a resposta foi a que eu já adivinhava. É empurrado, abalroado pelos miúdos mais velhos só porque sim. Disse-me que fez queixa à responsável e que esta ralhou com os malfeitores – veremos se fica por aqui.
Mas uma coisa já ficou: o mau exemplo! Por isso, lá lhe expliquei que só porque somos maiores e mais fortes isso não nos dá o direito de ameaçar ou atacar os mais pequeninos. “Eu sei mamã!” – disse ele. Eu sei que ele sabe, mas não o impediu de replicar a atitude.

Quando tanto do que nos rodeia é mau, é difícil continuar-se bom.

Sinto-me numa guerra sem tréguas. Verdadeiramente.

Mas, parafraseando aquele grande “poeta” que só quem vê novela conhece: “eu dou um boi para não entrar numa guerra, mas dou uma boiada para não sair dela!”. 

A três é que é bom!



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