sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Da esperança

Embora me repita a mim mesma, todos os dias, que os cabelos brancos que se atropelam na minha cabeça vão valer o seu sacrifício no futuro, há alturas em que me pergunto se realmente colherei os frutos do que ando a semear.

Será que o meu filho ouve o que lhe dizemos e compreende que só queremos o melhor para a sua vida? Será que lhe fica alguma coisa das lavagens cerebrais diárias? Da expurgação que tentamos fazer dos maus vícios a que está tão irremediavelmente exposto?

Ontem à noite senti que sim. Acreditei que se tornará um ser humano de valor, não apenas porque é uma criança doce e meiga, com um coração bom mas também, indubitavelmente, graças ao nosso acompanhamento, empenho e dedicação.

Estávamos a jantar e já não sei como, falámos do papel dos pais na vida dos filhos e do quanto certas medidas que são vistas por estes como malévolas, visam apenas protegê-los das atrocidades do mundo.

O papa dizia: quando tiveres os teus filhos vais perceber que tiveste (e tens) pais espetaculares. Inicialmente o meu pequeno príncipe repetiu o que já nos tinha dito várias vezes: eu não vou ter filhos. No entanto, e reponderada a hipótese de os ter, afirmou que faria com eles o que nós fazemos consigo: controlar os conteúdos que vê na televisão, para que não cresçam com o “cérebro roto”.

Explicou-nos que se apanhasse os seus herdeiros a prevaricar (o exemplo que nos falou foi: a ver o Naruto) que os punha 3 meses de castigo, com a obrigação de aprender a história de Portugal num ano.

É um castigo bastante curioso, este de aprender história. E severo, o da proibição de ver ecrãs durante tanto tempo. Nunca lhe impusemos mais do que uma semana de detox. É caso para dizer que o aprendiz supera o mestre.

Desta conversa retiro que o meu pequenote compreende perfeitamente que as limitações que impomos à sua vida são para o proteger e que são das maiores provas de amor que lhe poderíamos dar.

A três é que é bom!



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