quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Do que a natureza nos dá

Uma das coisas que não consigo fazer durante a semana, e que lamento, é caminhar. Embora vá a pé levar o meu príncipe à escola e faça pequenos trajetos na hora do almoço, são pouco mais do que meia dúzia de metros e não chega para ser qualificado como caminhada.  Tem dias que os passos efetuados não bastam para que não seja classificada como uma pessoa sedentária.

Por conseguinte, ao fim de semana temos de compensar.

A tarefa “ir passear o Mickey” tem, portanto, um significado muito mais abrangente que o simples facto de levar o cão à rua. É claro que todos os dias sai: de manhã vai connosco à escola; à tarde vai buscar o dono ao acolhimento; e à noite dá mais um giro. Mas ao sábado e domingo prevemos sempre um grande passeio, para que possa esticar as pernas – ele e eu também.  

O papa nem sempre nos acompanha – ocupado a cumprir outras lides – mas o pequeno príncipe não tem escapatória.

Já contei que refila e reclama e faz todo um cinema para sair, convencido que, se ficasse em casa, poderia alapar o cu no sofá a ver televisão. Mas não lhe serve de nada. “O cão é teu, tens de te ocupar dele” –  frase que uso invariavelmente, para lhe incutir o sentido da responsabilidade.

Portanto, obrigado a sair, uma parte do trajeto – quando não todo – é passada a barafustar. Porque isto, porque aquilo, patati, patata.

Embora na esmagadora maioria as nossas saídas acabem por ser, finalmente, extremadamente agradáveis e gratificantes, é cansativo ouvir a mesma ladainha, como um disco riscado. Por isso, tento distraí-lo das barbaridades que diz, arrastando a conversa para outro assunto que não seja o “passear” e mostrando-lhe as coisas singulares que cruzamos no caminho. Procuro chamar a sua atenção para detalhes na paisagem, as cores, os sons, as obras de arte que a natureza cria, sem a mão do homem.

Nos dois últimos fins de semana decidimos apanhar castanhas (daquelas que não são comestíveis) para fazer o que eu chamei “um projeto de outono”.  
E no domingo à tarde, depois de uma excursão em família pela floresta, estivemos a conceber, a 6 mãos, a nossa coroa outonal. O pequenote bem que se divertiu a perfurar, com a ajuda do papa, as castanhas com a máquina de furar.

Não tendo resultado numa coisa espetacular – porque me faltava algum material – foi elaborada num momento de partilha e isso é que é o mais importante. O tempo que passamos juntos. O tempo que dedicamos uns aos outros. O amor.

A três é que é bom!





 

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