Nesta entrada vou partilhar o que se chama um verdadeiro petit coup monté.
Estava tudo planeado. Não nos pormenores mas no resultado.
Então foi isto:
Já várias vezes contei que o meu pequeno príncipe tem uma relação ambígua com o
nosso Mickey. A voltinha prevista é sempre demasiado longa, ou está demasiado
frio, ou muito calor, ou seja lá o que for... levando-o a tentar reduzir ao
máximo o tempo que passamos na rua com o bichinho. Mesmo em casa não posso
dizer que seja um dono adorável. Tem momentos que demonstra um enorme carinho
pelo cão mas noutros age como um totó ciumento e mal intencionado. Por mais
pedagogia que tenha empregado ao longo destes, em breve, 2 anos que temos o nosso patudo, não almejei grandes progressos.
A dada altura tinha-lhe falado de um filme que vi há mais de
uma década e que me tocou muito. Baseado num livro com o mesmo nome, retrata a
vida de um cão de família. Disse-lhe que seria um excelente filme para ele ver,
porque tinha a certeza que a sua visão do mundo seria alterada. Cheguei a
procurar pela película nas plataformas streaming, sem sucesso. Qual não foi a
minha surpresa quando vi, na semana passada, o Marley & me na Netflix?
Avisei logo em casa que, como o fim de semana se anunciava
chuvoso, haveria sessão de cinema – para quem adora televisão, não poderia apregoar
melhor programa. Também informei qual o filme que veríamos e expliquei ao meu
filho que estava consciente que haveria muita baba e ranho no final, mas que
era um mal necessário.
Obviamente não me enganei.
Segunda-feira, dia dos Finados, estávamos os três frente à
televisão a descobrir as peripécias do pequeno e depois grande labrador e da
sua família que passou de 2 para 3 elementos e mais tarde para 6 (com o nascimento dos 3 filhos), acompanhando a evolução das suas vidas.
O cachorro, asneirento e com medo da trovoada, tem uma existência plena. Feliz.
Numa família que o ama e a quem ele retribui o mesmo carinho. Contudo, e já
numa idade avançadota, é-lhe diagnosticada uma doença incurável e os donos
decidem pôr fim ao seu sofrimento.
Neste ponto, em nossa casa, um observador constataria o seguinte cenário:
- um adulto, que nunca chora, de olhos marejados;
- uma adulta, que já de si faz beicinho em filmes animados, a fungar e soluçar;
- uma criança, reconhecidamente sensível, em prantos, a chorar sofredora e ruidosamente.
O meu pequeno príncipe não aguentou ver quando o Marley
estava para ser anestesiado e fugiu a abraçar o seu cão. Voltaram os dois, com o meu pequenote pendurado no pescoço do seu Mickey com promessas de nunca mais
ser um dono desleixado.
Ninguém com o coração no sitio certo resiste a este filme sem
que lhe escorra uma lágrima pela cara abaixo.
É claro que o facto de nos revermos nesta história - e anteciparmos a dor que será perder o nosso fofinho - ajudou ao diluvio que se viu.
Nessa mesma tarde, quando saí com meu filhote para passear o Mickey, olhou-me nos olhos e disse: "avec ce film tu m'as mis sur le bon chemin".
A três é que é bom mas a quatro somos mais avariados!
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