Embora me repita a mim mesma, todos os dias, que os cabelos brancos que se atropelam na minha cabeça vão valer o seu sacrifício no futuro, há alturas em que me pergunto se realmente colherei os frutos do que ando a semear.
Será que o meu filho ouve o que lhe dizemos e compreende que
só queremos o melhor para a sua vida? Será que lhe fica alguma coisa das
lavagens cerebrais diárias? Da expurgação que tentamos fazer dos maus vícios a
que está tão irremediavelmente exposto?
Ontem à noite senti que sim. Acreditei que se tornará um ser
humano de valor, não apenas porque é uma criança doce e meiga, com um coração
bom mas também, indubitavelmente, graças ao nosso acompanhamento, empenho e
dedicação.
Estávamos a jantar e já não sei como, falámos do papel dos
pais na vida dos filhos e do quanto certas medidas que são vistas por estes
como malévolas, visam apenas protegê-los das atrocidades do mundo.
O papa dizia: quando tiveres os teus filhos vais perceber
que tiveste (e tens) pais espetaculares. Inicialmente o meu pequeno príncipe
repetiu o que já nos tinha dito várias vezes: eu não vou ter filhos. No entanto,
e reponderada a hipótese de os ter, afirmou que faria com eles o que nós fazemos
consigo: controlar os conteúdos que vê na televisão, para que não cresçam com o
“cérebro roto”.
Explicou-nos que se apanhasse os seus herdeiros a prevaricar
(o exemplo que nos falou foi: a ver o Naruto) que os punha 3 meses de castigo,
com a obrigação de aprender a história de Portugal num ano.
É um castigo bastante curioso, este de aprender história. E
severo, o da proibição de ver ecrãs durante tanto tempo. Nunca lhe impusemos
mais do que uma semana de detox. É caso para dizer que o aprendiz supera o
mestre.
Desta conversa retiro que o meu pequenote compreende
perfeitamente que as limitações que impomos à sua vida são para o proteger e
que são das maiores provas de amor que lhe poderíamos dar.
A três é que é bom!