Desenganem-se os que acham que vou debitar sobre saídas ao restaurante, idas ao cinema ou programas pela noite fora. Nada disso. Longe vão os tempos em que havia oportunidade (e até vontade) para isso. Se a maternidade aniquilou a disponibilidade que gozávamos quando não tínhamos o nosso filho, a pandemia acabou por reduzir a zero o desejo de sair.
Por conseguinte, as nossas noites de sexta-feira (à
semelhança das demais) são caseirinhas. Mas isso não significa que não sejam
especiais.
Passo a explicar.
Ainda no decurso do primeiro trimestre do ano letivo
passado, e por forma a incentivar o meu filho a comportar-se bem na escola (o
que não sucedera regularmente no ano precedente), o meu marido disse-lhe que
todas as vezes que ficasse toda a semana no sol – a avaliação diária do
comportamento regia-se pelo estado do tempo, começando sempre no sol e
decrescendo até à trovoada, com a nuvem e a chuva pelo caminho – poderia dormir
connosco na nossa cama.
O pequeno príncipe, que pedia muitas vezes para partilhar os
nossos lençóis, viu naquela abertura a possibilidade de realizar o seu desejo
e, fosse pela perspetiva de sexta-feira à noite ou porque aprendeu a
comportar-se bem, as semanas de sol multiplicaram-se – com as sequentes noites
a três.
Durante o período de férias fez do seu melhor para merecer o
seu lugar no nosso meio e, neste recomeço escolar, exigiu a manutenção do
acordo.
Ora bem. Eu confesso que por diversas vezes acusei o meu
marido de se ter precipitado com esta história das sextas à noite e ter
assumido um compromisso que nos afeta a todos, sem pensar nas consequências: o
meu pequenote é atravessado a dormir e sendo o sábado o dia da faxina, ninguém
naquela casa acorda com grande disposição.
Ninguém não. Minto. O meu filho está sempre contente de ter
passado a noite com os pais.
E de repente dei comigo a pensar: durante quanto tempo mais
é que ele vai querer dormir no nosso quarto? Durante quanto tempo mais vai
correr para a nossa cama quando acorda sobressaltado com pesadelos?
Senti um aperto no peito ao perceber que não será durante
muito mais tempo. E, de um dia para o outro, dormir com o meu filho abraçadinho
a mim, com os seus cabelos a entrar-me nas narinas, as pernas atravessadas
sobre o meu corpo, as cotoveladas certeiras nos olhos… passaram a constituir
momentos sagrados que quero desfrutar para a eternidade.
A três é que é bom!
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