segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Das noites de sexta-feira

Desenganem-se os que acham que vou debitar sobre saídas ao restaurante, idas ao cinema ou programas pela noite fora. Nada disso. Longe vão os tempos em que havia oportunidade (e até vontade) para isso. Se a maternidade aniquilou a disponibilidade que gozávamos quando não tínhamos o nosso filho, a pandemia acabou por reduzir a zero o desejo de sair.

Por conseguinte, as nossas noites de sexta-feira (à semelhança das demais) são caseirinhas. Mas isso não significa que não sejam especiais.

Passo a explicar.

Ainda no decurso do primeiro trimestre do ano letivo passado, e por forma a incentivar o meu filho a comportar-se bem na escola (o que não sucedera regularmente no ano precedente), o meu marido disse-lhe que todas as vezes que ficasse toda a semana no sol – a avaliação diária do comportamento regia-se pelo estado do tempo, começando sempre no sol e decrescendo até à trovoada, com a nuvem e a chuva pelo caminho – poderia dormir connosco na nossa cama.

O pequeno príncipe, que pedia muitas vezes para partilhar os nossos lençóis, viu naquela abertura a possibilidade de realizar o seu desejo e, fosse pela perspetiva de sexta-feira à noite ou porque aprendeu a comportar-se bem, as semanas de sol multiplicaram-se – com as sequentes noites a três.

Durante o período de férias fez do seu melhor para merecer o seu lugar no nosso meio e, neste recomeço escolar, exigiu a manutenção do acordo.

Ora bem. Eu confesso que por diversas vezes acusei o meu marido de se ter precipitado com esta história das sextas à noite e ter assumido um compromisso que nos afeta a todos, sem pensar nas consequências: o meu pequenote é atravessado a dormir e sendo o sábado o dia da faxina, ninguém naquela casa acorda com grande disposição.

Ninguém não. Minto. O meu filho está sempre contente de ter passado a noite com os pais.

E de repente dei comigo a pensar: durante quanto tempo mais é que ele vai querer dormir no nosso quarto? Durante quanto tempo mais vai correr para a nossa cama quando acorda sobressaltado com pesadelos?

Senti um aperto no peito ao perceber que não será durante muito mais tempo. E, de um dia para o outro, dormir com o meu filho abraçadinho a mim, com os seus cabelos a entrar-me nas narinas, as pernas atravessadas sobre o meu corpo, as cotoveladas certeiras nos olhos… passaram a constituir momentos sagrados que quero desfrutar para a eternidade.

A três é que é bom!




Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.