Schueberfouer é o
nome da feira popular que, anualmente*,
durante 20 dias, anima a capital deste país.
Jean l’Aveugle, rei de Bohème et Comte de Luxembourg, foi o responsável pela
sua criação, em 1340, organizando o que na altura não passava de um pequeno mercado,
mas que hoje, com mais de 650 edições, representa uma lufada de ar para a
economia e diversão nacionais.
* O meu itálico na palavra “anualmente” quer ressalvar o interregno
que a pandemia provocou nas nossas vidas – dois anos que voaram, não sei bem
como – e durante o qual a maioria das “tradições” foi suspensa. A feira popular
não foi exceção. Em 2020 foi cancelada e em 2021 quase inexistente.
Ontem foi o dia de voltar à Fouer de antigamente, com a família. E foi curioso constatar como algumas coisas mudaram neste “entretanto”.
Começando por aquilo que se mantém inalterado:
- o Gebake Fësch da Friture Armand não desilude. Aparentado do bacalhau fresco,
é um peixe branco e saboroso, envolto em polme antes de fritar. Delicioso;
- O Kürtos, de origem (salvo erro) húngara, é um rolo oco, de bolo crocante por
fora e fofo no interior. Com cobertura de coco, petitas de chocolate, noz,
canela ou caramelizado, faz parte daquelas iguarias que nunca falham nas nossas
incursões aos mercados.
As surpresas revelaram-se ao nível das atrações.
Na última edição da feira a que fomos, o pequeno príncipe tinha 6 anos e, em conivência
com a sua idade, quis andar nos carroceis para criancinhas: o comboiinho
insosso e o típico carrocel redondo, com aquela musica chata e repetitiva. Não
faltou a pescaria de patos, trazendo para casa uma bugiganga qualquer que
acabou no caixote do lixo por inoperante ou de qualidade duvidosa.
Este ano o meu rebento surpreendeu-me com a sua audácia em
experimentar coisas novas e potencialmente assustadoras.
Ainda antes de nos encontramos com os primos, arriscou-se numa viagem no Daemonium, que é o maior comboio
fantasma itinerante do mundo. Foi com o papa e saiu de lá extasiado e trémulo,
a relatar as realidades terríveis que
cruzou pelo caminho, com especial enfoque no motosserra empunhado por um senhor
de carne e osso.
Com as emoções a oscilar entre o espetacular e o aterrador, a experiência foi
de molde a querer repetir a dose, pelo que mais tarde voltou à carga, mas desta
vez a mamã também seguiu viagem com a prima – superamos a prova, sem gritos.
E quem fala em gritos, fala em guinchos, berros, ganidos e outros
ais. Isto foi o que se ouviu do alto da montanha russa Wild Mouse quando os “meus” mais velhos, com os respetivos pais,
foram dar uma voltinha.
O pequerrucho e a prima não imaginavam no que se estavam a meter, quando, todos
gaiteiros, subiram para a carruagem. Os sorrisos e excitação iniciais transformaram-se
em olhos esbugalhados e dentes serrados, o retrato do medo. Muito bom!
Não, não estou a ser cruel ao rir-me do pavor que sentiram.
Tenho a certeza que apesar do pânico, viveram um momento único de adrenalina e
que vão recordar, com saudade, aquela primeira experiência.
É bom superar-se e enfrentar o próprio medo.
A vida é para os audazes.
E o que seria da vida sem um pouquinho de pimenta?
A três é que é bom!