quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Dos gestos bonitos

O meu pequeno príncipe é daquele tipo de pessoa que tem mau acordar, exceção feita aos dias em que acorda cedo para fazer alguma coisa que seja do seu agrado. Quero com isto dizer que mesmo aos sábados, domingos e feriados pode despertar contrariado, se o programa não for de encontro aos seus interesses.

Embora ainda esteja de férias, o papa e eu estamos a trabalhar pelo que vai para a estrutura de acolhimento. Isso é fator mais do que suficiente para, logo ao abrir a pestana, me presentear com um humor de cão (o Mickey, como cachorro que é, está sempre contente, pelo que desconheço a origem desta expressão).

Ontem excedeu-se um pouquinho na sua bravura matinal.
Ainda antes de sairmos de casa, começou com o habitual circo de aborrecer o cão ao invés de se calçar e vestir o casaco. Disse-lhe, como sempre, para tratar dele e deixar que eu ponho a trela no Mickey – até porque se enrosca no bicho e fica com a roupa cheia de pêlo.  Foi o suficiente para me lançar olhares agressivos e murmurar impropérios, saindo disparado de casa, sem esperar por nós ou sequer olhar para trás.

Para uma atitude totalmente despropositada e parva, nada como outra que também deixa a desejar: não lhe falar.
Ou seja: quando a meio caminho se lembrou de abrandar o ritmo e chamar o famoso “mamã”, eu não lhe respondi. E continuei sem lhe responder durante uns minutos, até que me rogou lhe falasse e eu lhe perguntei se não me devia um pedido de desculpas. Assentiu que sim e pediu. E eu desculpei. Prontamente. Mas disse-lhe que deveria pensar melhor no que diz e faz porque as suas atitudes de palerma não refletem o menino maravilhoso que é. Trocamos os beijinhos de “até logo” e fomos trabalhar.

Não voltei a pensar no assunto, até porque é moeda corrente ter de o chamar à razão.

Foi para mim uma enorme surpresa encontra-lo ansioso, à minha espera, no meu regresso a casa. Tinha uma prenda para mim, que fez durante o dia no acolhimento. Fez-me uma pulseira, para reforçar o seu pedido de desculpas e dizer-me o quanto gosta de mim.
Que gesto bonito!
Mas bem mais lindo é o seu coração!
Que feliz fiquei por constatar que a nossa disputa matinal lhe ficou a martelar e que, nos seus pensamentos, reconheceu ter-se excedido e necessitar redimir-se.  

Todos nós cometemos erros – errar é humano! – mas reconhecer as nossas falhas é uma demonstração de carácter apenas dos “grandes”. O meu menino é gigante e, bem amparado, tem um mundo à sua frente, à espera de ser conquistado.

A três é que é bom!

                                              Na falta de A, colocou os V. Engenhoso 😜


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