quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Da Nina

Não é a primeira vez que vos falo dela, embora tema vá ser a última. A Nina, a boa influência do meu filho, mudou de casa e, consequentemente, de escola. Foi uma notícia desoladora, tanto para o meu pequerrucho como para nós, os pais. De todos os miúdos que poderiam partir, a única que eu desejava ficasse por muito tempo na “nossa” vida era a Nina.

Conheceram-se na primeira classe e foram da mesma turma nos anos subsequentes. Até à passada sexta-feira.

Partilharam, durante uns tempos, a mesma mesa – tendo nascido entre eles um sentimento bonito, que a dada altura chamaram de amor e que nunca deixou de ser uma verdadeira amizade.

Sem andarem colados, tinham-se um ao outro e consideravam-se os beste Freunde.

A ligação de ambos era salutar para o meu rebento, que dado a extravagâncias e pantominas, encontrava na amiga um equilíbrio que o mantinha na ordem. Na sua ânsia de independência e afirmação, tem atitudes muitas vezes desajustadas que não só não são travadas como serão, pelo contrário, fomentadas e aguçadas pelos outros amigos que tem. Todos rapazes.  

Sem a Nina, fica despido.

É verdade que por razões diferentes, mas vamos todos sentir muitas saudades da melhor amiga do meu menino.

A três é que é bom!



sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Dos chiques - Steampunk

E eis a segunda parte daquele texto mal amanhado de há dias, que decidi dividir em dois - para os distraídos, informo que a entrada anterior sofreu fortes alterações 😅 

Se fosse vasculhar no passado saberia dizer quando fora a última vez, mas não sendo esse o elemento relevante, digo-vos apenas que no último fim de semana a Steampunk Convention voltou a acontecer no Fond-de-Gras e que nós fomos até lá!

Foi um sábado de agenda cheia, com as atividades extracurriculares do pequenote. Estivemos privados da ajuda paterna – benemérito extremoso foi ajudar uns desconhecidos a desmontar a casinha da Hera – e passamos uma grande parte do dia a correr de um lado para o outro. Ainda assim, não nos faltou a energia para, juntamente com o nosso Mickey, palmilhar o caminho que nos separava do mundo fabulástico do Steampunk.

Já tínhamos cruzado alguns participantes do evento, com as suas roupas extravagantes e os seus acessórios alucinantes. No entanto, o aglomerado de steampunkers associado ao cenário do Minett Park resultaram num quadro indescritível.

O meu filhote adorou o estilo, que qualificou de “os chiques”. Ficou deleitado com os vários elementos que os participantes exibiam, sobretudo os mais inventivos, como uns samurai.  
Havia vários stands com artigos à venda, os quais foi percorrendo em busca de uns acessórios – estava focado na compra de uns óculos de aviador. A mãe apoiou moral e financeiramente a compra dos ditos óculos e, ainda, de um chapéu alto – que lhe deram uma classe e elegância notáveis, como se pode ver pela foto 😄

Disse que da próxima vez quer vestir-se todo a rigor. Não me parece mal. Na verdade, no meu interior também anseio um dia envergar uma daquelas indumentárias loucas, subir para o comboio 1900 e viajar para um mundo paralelo.

Um pouco de fantasia nunca fez mal a ninguém.

A três é que é bom!




segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Do triste fadário

Para quem acompanha este blog, vai dar-se conta que esta entrada não é propriamente nova.
Leitora e crítica dos meus textos, apercebi-me que misturar assuntos não fazia sentido, pelo que separei a anterior publicação em dois, atribuindo a esta um novo título e remodelando a apresentação. 

Mas que considero eu de triste fadário? Considero a árdua tarefa de, dia após dia, explicar ao meu rebento que o valor das pessoas não está no que elas mostram exteriormente (roupas, calçado, joias, carros, casas) mas naquilo que elas são no seu coração. E dele nada reter desta ladainha. 

Vejamos um exemplo: em princípios de setembro, o meu filho foi apontado por outras crianças que frequentam a mesma estrutura de acolhimento por usar sapatilhas supostamente baratas. Ou seja, os colegas denegriram o que lhe viram nos pés, considerando-se eles próprios superiores e mais na moda, porque as suas sapatilhas teriam custado 300 €.
A atitude do meu rapaz foi, sem fazer ideia do valor das suas sapatilhas, assumir inequivocamente que as dos outros eram melhores. 
Sempre permeável às criticas alheias, veste na pele as "indignidades" que lhe atiram, inferiorizando-se. Não é capaz de questionar e perguntar-se: mas não serão as minhas coisas melhores do que as dos outros? Não serei eu o exemplo a seguir e não os outros? Ou melhor que isso: estou-me no penico! 

É claro que fico louca. E ponho-me a gritar aos quatro ventos que esta sociedade está podre e que não vamos a lado nenhum com pais a incutirem aos filhos os valores da ganância e das aparências. 

Mas de que me serve tanta indignação? Não é por isso que o mundo vai mudar. O que tenho de fazer é continuar no meu triste fadário de martelar na cabeça daquele que tenho em casa. 

Porque do meu amor maior eu nunca vou desistir. Por mais ameaças que faça 😬

A três é que é bom!





quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Dos gestos bonitos

O meu pequeno príncipe é daquele tipo de pessoa que tem mau acordar, exceção feita aos dias em que acorda cedo para fazer alguma coisa que seja do seu agrado. Quero com isto dizer que mesmo aos sábados, domingos e feriados pode despertar contrariado, se o programa não for de encontro aos seus interesses.

Embora ainda esteja de férias, o papa e eu estamos a trabalhar pelo que vai para a estrutura de acolhimento. Isso é fator mais do que suficiente para, logo ao abrir a pestana, me presentear com um humor de cão (o Mickey, como cachorro que é, está sempre contente, pelo que desconheço a origem desta expressão).

Ontem excedeu-se um pouquinho na sua bravura matinal.
Ainda antes de sairmos de casa, começou com o habitual circo de aborrecer o cão ao invés de se calçar e vestir o casaco. Disse-lhe, como sempre, para tratar dele e deixar que eu ponho a trela no Mickey – até porque se enrosca no bicho e fica com a roupa cheia de pêlo.  Foi o suficiente para me lançar olhares agressivos e murmurar impropérios, saindo disparado de casa, sem esperar por nós ou sequer olhar para trás.

Para uma atitude totalmente despropositada e parva, nada como outra que também deixa a desejar: não lhe falar.
Ou seja: quando a meio caminho se lembrou de abrandar o ritmo e chamar o famoso “mamã”, eu não lhe respondi. E continuei sem lhe responder durante uns minutos, até que me rogou lhe falasse e eu lhe perguntei se não me devia um pedido de desculpas. Assentiu que sim e pediu. E eu desculpei. Prontamente. Mas disse-lhe que deveria pensar melhor no que diz e faz porque as suas atitudes de palerma não refletem o menino maravilhoso que é. Trocamos os beijinhos de “até logo” e fomos trabalhar.

Não voltei a pensar no assunto, até porque é moeda corrente ter de o chamar à razão.

Foi para mim uma enorme surpresa encontra-lo ansioso, à minha espera, no meu regresso a casa. Tinha uma prenda para mim, que fez durante o dia no acolhimento. Fez-me uma pulseira, para reforçar o seu pedido de desculpas e dizer-me o quanto gosta de mim.
Que gesto bonito!
Mas bem mais lindo é o seu coração!
Que feliz fiquei por constatar que a nossa disputa matinal lhe ficou a martelar e que, nos seus pensamentos, reconheceu ter-se excedido e necessitar redimir-se.  

Todos nós cometemos erros – errar é humano! – mas reconhecer as nossas falhas é uma demonstração de carácter apenas dos “grandes”. O meu menino é gigante e, bem amparado, tem um mundo à sua frente, à espera de ser conquistado.

A três é que é bom!

                                              Na falta de A, colocou os V. Engenhoso 😜


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Da promessa

A minha memória já não me permite garantir, com certeza, o ano em que me propus levar a um labirinto de milho o meu pequeno príncipe e a minha rainha. A minha cunhada diz que remonta ao nascimento do caçula da família, altura em que a mais velha passava mais tempo connosco (que lindas recordações que tenho desses dias!). Terá sido, portanto, há 5 anos.

Nessa altura, as condições meteorológicas adversas, associadas a desarranjos de tempo, culminaram no adiamento da iniciativa para o ano seguinte. O certo é que nos anos subsequentes não organizaram o dito labirinto.

Tal facto não seria grave, não fosse dar-se a circunstância de, há 5 anos e nos momentos mais inusitados, a minha querida afilhada me atirar à cara que não cumpri o que lhe prometi. Por mais que lhe explicasse que não voltaram a semear o milho, a conversa terminava sempre com um olhar furioso e frontal e com a acusação vil de ter falhado ao prometido.

Não sabe a serigaita que o meu desejo de não faltar à palavra é incontestável, e que todos os anos, por esta altura, procurei realizar o seu sonho.

Este foi o ano!

No meio das publicidades inúteis e execráveis que me aparecem pela frente, surgiu-me, há umas semanas, uma espetacular! O Park Sënnesräich criou um labirinto de milho, com zonas de experimentação, num terreno de 1,3 hectares.
Desta vez, nem que chovessem picaretas, haveria de levar a criançada a perder-se no milho e saldar a minha dívida. Sim, que se no futuro estes pirralhos não cumprirem o que prometerem, nunca poderão invocar o meu nome como exemplo. 

Desta feita, não a dois, mas a três – o piolho teve tempo de crescer e juntar-se à festa – partiram em largada na frente, à descoberta dos caminhos entre as canas altas, numa ânsia de chegar mais além.
Desembocando em impasses aqui e ali, percorreram os trilhos do labirinto, exploraram as barracas dos 5 sentidos, saltaram na palha, mimaram os espantalhos… tudo numa euforia e algazarra audível a 1 km.
Que bom que é o barulho de crianças felizes!

Garantidamente que: A três é que é bom!



quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Da impaciência

O título desta entrada tanto poderia ser este como: da ansiedade, do stress, da pressa, da sofreguidão, da precipitação. Basicamente são sinónimos e caracterizam bem o carácter urgente do meu filho.

Eu sei que já falei disto e que não é novidade o facto do pequeno príncipe viver focado no que vem a seguir. Tem dificuldade em aproveitar o presente, tal é a sua vontade de chegar ao futuro. Prefere a incerteza do amanhã à garantia que o agora proporciona.

Esta agitação reflete-se nas grandes e nas pequenas coisas.
É tamanho o rebuliço da sua alma que até a dentição sai afetada: quando um dente dá sinais de abanar, empenha-se, sem relaxe, no pobre coitado, até que acabe por ceder à sua voracidade. Isso implica arranca-los quase à força, sem que o dente definitivo esteja “à porta”.

Em fevereiro, e após uns dias de trabalho intensivo, conseguiu arrancar o incisivo central direito superior. Empenhou-se de tal ordem em fazer saltar o dente que me vi obrigada a ajudar a extraí-lo, para evitar que o comesse durante a noite.
A precipitação levou a que, volvidos meses, o dente definitivo continuasse sem dar ares da sua graça. Em maio foi à dentista que, através de radiografia, constatou que dente estava lá e que a dureza da gengiva estava a impedir que brotasse. Sugeriu trincasse, durante 3 meses, cenouras cruas, para amaciar a pele e ajudar o incisivo a crescer – sob pena de ter que efetuar um corte para permitir a saída do dito cujo.

Foi engorgitando cenouras, mas acredito que a aspereza de as trincar sem dente fosse de molde a desviar a mordida para outras paragens. Certo é que ainda há uma semana nem sinal do dente definitivo. Precisamente no dia em que marquei consulta na dentista para obviar ao problema, chegou-me a casa com a novidade: já se sentia uma pontinha de marfim a despontar.

Levei-o, ainda assim, ver a médica que nada fez no dente a crescer, aproveitando para lhe limpar os restantes e lhe relembrar duas coisas: a importância de lavar os dentes e a necessidade de deixar a natureza fazer o seu trabalho.

Que bom que seria se o meu pequenote conseguisse desacelerar e saborear a vida, sem pressas.

A três é que é bom!



segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Das emoções fortes

Schueberfouer é o nome da feira popular que, anualmente*, durante 20 dias, anima a capital deste país.

Jean l’Aveugle, rei de Bohème et Comte de Luxembourg, foi o responsável pela sua criação, em 1340, organizando o que na altura não passava de um pequeno mercado, mas que hoje, com mais de 650 edições, representa uma lufada de ar para a economia e diversão nacionais.

* O meu itálico na palavra “anualmente” quer ressalvar o interregno que a pandemia provocou nas nossas vidas – dois anos que voaram, não sei bem como – e durante o qual a maioria das “tradições” foi suspensa. A feira popular não foi exceção. Em 2020 foi cancelada e em 2021 quase inexistente.

Ontem foi o dia de voltar à Fouer de antigamente, com a família. E foi curioso constatar como algumas coisas mudaram neste “entretanto”.

Começando por aquilo que se mantém inalterado:
- o Gebake Fësch da Friture Armand não desilude. Aparentado do bacalhau fresco, é um peixe branco e saboroso, envolto em polme antes de fritar. Delicioso;
- O Kürtos, de origem (salvo erro) húngara, é um rolo oco, de bolo crocante por fora e fofo no interior. Com cobertura de coco, petitas de chocolate, noz, canela ou caramelizado, faz parte daquelas iguarias que nunca falham nas nossas incursões aos mercados.

As surpresas revelaram-se ao nível das atrações.
Na última edição da feira a que fomos, o pequeno príncipe tinha 6 anos e, em conivência com a sua idade, quis andar nos carroceis para criancinhas: o comboiinho insosso e o típico carrocel redondo, com aquela musica chata e repetitiva. Não faltou a pescaria de patos, trazendo para casa uma bugiganga qualquer que acabou no caixote do lixo por inoperante ou de qualidade duvidosa.   

Este ano o meu rebento surpreendeu-me com a sua audácia em experimentar coisas novas e potencialmente assustadoras.
Ainda antes de nos encontramos com os primos, arriscou-se numa viagem no Daemonium, que é o maior comboio fantasma itinerante do mundo. Foi com o papa e saiu de lá extasiado e trémulo, a relatar as realidades terríveis que cruzou pelo caminho, com especial enfoque no motosserra empunhado por um senhor de carne e osso.
Com as emoções a oscilar entre o espetacular e o aterrador, a experiência foi de molde a querer repetir a dose, pelo que mais tarde voltou à carga, mas desta vez a mamã também seguiu viagem com a prima – superamos a prova, sem gritos.

E quem fala em gritos, fala em guinchos, berros, ganidos e outros ais. Isto foi o que se ouviu do alto da montanha russa Wild Mouse quando os “meus” mais velhos, com os respetivos pais, foram dar uma voltinha.
O pequerrucho e a prima não imaginavam no que se estavam a meter, quando, todos gaiteiros, subiram para a carruagem. Os sorrisos e excitação iniciais transformaram-se em olhos esbugalhados e dentes serrados, o retrato do medo. Muito bom!

Não, não estou a ser cruel ao rir-me do pavor que sentiram. Tenho a certeza que apesar do pânico, viveram um momento único de adrenalina e que vão recordar, com saudade, aquela primeira experiência.
É bom superar-se e enfrentar o próprio medo.
A vida é para os audazes.
E o que seria da vida sem um pouquinho de pimenta?

A três é que é bom!