quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Das dúvidas existenciais

Com o crescimento as crianças tornam-se não só mais curiosas como as suas associações de ideias os levam a ter pensamentos mais complexos que requerem, muitas vezes, esclarecimentos e elucidações. É a idade das perguntas difíceis – ou por outra, das respostas espinhosas. Os seus questionamentos são legítimos e naturais. As explicações é que nem sempre são obvias e obrigam-nos a um trabalho mental rápido e coerente.

A pergunta típica “de onde vêm os bebés?” já foi formulada há muito tempo. Não me lembro quando, mas há tempo suficiente para que uma resposta baseada nas sementinhas fosse suficiente para satisfazer a curiosidade.

Entretanto, no ano letivo precedente, um dos temas abordados nas aulas de ciências foi a reprodução dos sapos. O pequeno príncipe contou-nos, com entusiamo, o que aprendera e falou-nos do comportamento dos sapos que, por quererem tanto ter bebés, chegam a ponto de afogar as parceiras.  

Esta partilha serviu-me para me safar de um momento delicado, quando, do nada, o meu pequerrunho me perguntou o que significava o gesto de fazer um circulo com o polegar e o indicador e de passar no seu interior, para a frente e para trás, o dedo indicador da outra mão (não preciso ser mais explicita para perceberem, certo?). A pergunta apanhou-me de surpresa e para tentar alinhavar uma resposta – é sempre preciso dar resposta – que fosse razoável, pedi me dissesse onde tinha visto tal coisa. Fora uma das colegas da turma.
A minha explicação foi o mais concisa e simples que consegui - porque informação a mais conduz a questionamentos acrescidos.
Relembrei-o que tal como os sapos, todos os animais (racionais e irracionais) se relacionam para fazerem bebés e que esse gesto simboliza o ato de um macho e uma fêmea conceberem os filhos, mas que é uma representação muito ordinária e feia. Disse-lhe que não deveria repetir tal mímica, que era de má educação.

Se é verdade que no momento o meu esclarecimento satisfez o seu interesse, não demorou muito para que voltasse à carga com mais dúvidas. Passamos da teoria à prática: como é que a sementinha do homem se encontra com a sementinha da mulher. Eh pá! Agora é que a porca torce o rabo! Esta sim, ia ser difícil de explicar.
A pergunta surgiu ainda antes das férias, mas a complexidade do tema exigiu que lhe pedíssemos um tempo de reflexão.
As suas alusões à questão mostraram-nos a urgência de lhe satisfazer a curiosidade – porque se não obtivesse um esclarecimento nosso, procuraria noutras fontes e sabe-se lá o que daí adviria.

Tínhamos pensado que a série “Era uma vez a vida” poderia ser de utilidade, mas não peca por não ser demonstrativa. Acabamos por optar por um vídeo, adequadamente explicito, no qual a narradora acompanha as suas explicações com as imagens de um livro infantil sobre o tema. Fomos fazendo pausas na narrativa, para esclarecimentos adicionais e para reforçar que é um ato praticado por gente grande e nunca por crianças. Pareceu-nos que a sua curiosidade ficou saciada. A única pergunta embaraçosa que dali adveio foi: vocês fizeram isso para me fazerem a mim? Todos nus?

Eu sei. Todos achamos que os nossos pais não fazem aquelas coisas. Viemos no bico da cegonha 😁

A três é que é bom!



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